sexta-feira, 3 de maio de 2013

Filosofia Contemporânea - Kant

1) Quais sãos os aspectos presentes na filosofia kantiana que mais se relacionam com o Iluminismo?

O Iluminismo pode ser sintetizado como um movimento que pretendia, a partir da razão, lançar suas luzes sobre a humanidade. Assim, seus pensadores defendiam que o progresso intelectual, material e moral, dependeriam do exercício da razão, de maneira a libertar os homens de suas prisões dogmáticas.

Assim, podemos associar a filosofia kantiana ao mesmo movimento que pretendia dar cabo das respostas que permitiriam o progresso seguro da ciência: o questionamento sobre a origem e limites do conhecimento. Logo, se o Iluminismo propunha-se a conceber o mundo a partir da razão, Kant pretendia legitimar seus limites, construindo um sistema que permitisse responder, de maneira segura, o que nos seria possível saber, fazer e esperar. 

Portanto, na mesma corrente iluminista, Kant tinha a confiança de que a partir da razão, o homem poderia discutir e compreender todos os problemas que lhe fossem propostos, conquistando, assim, a verdadeira autonomia.

2) Por que Kant considera que realizou uma revolução comparável à efetuada por Nicolau Copérnico?

De fato, Kant foi o precursor de uma revolução equivalente a de Copérnico na Astronomia, ao propor a distinção entre o mundo fenomênico e o mundo noumênico. 

Como panorama histórico, vale lembrar que Kant viveu em uma época em que havia duas correntes filosóficas, contrárias e dominantes, que pensavam o mundo: a dos racionalistas e a dos empiristas. Assim, superando essa dicotomia filosófica entre as duas correntes, Kant revolucionou a concepção sobre o conhecimento humano, a partir da reavaliação de todos os conceitos que o precederam.

A partir dessa reavaliação, Kant determinou que a metafísica não era objeto das discussões científicas e, a partir de suas Críticas (sobretudo, da Crítica da Razão Pura e Crítica da Razão Prática), revolucionou o entendimento sobre a relação entre sujeito e objeto.

Na Crítica da Razão Pura, Kant realiza a análise dos juízos (relação entre os conceitos pensados), classificando-os em três tipos: 

Juízo Analítico/A priori: relação onde o predicado é subentendido a partir da análise do sujeito, como se já estivesse contido nele. Neste juízo, não existe necessidade de comprovação experimental e o predicado nada acrescenta ao sujeito. É um juízo universal e necessário. Exemplo: "O sangue é vermelho" (no exemplo, o predicado vermelho nada acrescenta à idéia que temos sobre o sangue, pois sabemos, de maneira universal e necessária, que todo sangue é vermelho; também não precisamos nos cortar para ter a garantia da afirmação). Logo, subentende-se que seja um juízo com conceito semelhante às idéias racionalistas.

Juízo Sintético /A posteriori: relação onde o predicado agrega informação ao sujeito, pois não pode ser simplesmente extraído do sujeito. Não há universalidade, nem necessidade nessa relação e ela exige experimento. Exemplo: "O sangue estava contaminado" (no exemplo, o predicado acrescenta informação à idéia que temos sobre o sangue; estar contaminado, não é uma regra universal, nem necessária, a todos os sangues que porventura sejam analisados; a afirmação exige constatação empírica para tornar-se válida). Logo, subentende-se que seja um juízo com conceito semelhante às idéias dos empiristas.

Juízo Sintético a Priori: aqui trata-se da revolução kantiana, pois atrela os dois juízos anteriores, conciliando-os na concepção sobre o entendimento do mundo. Para o filósofo, é este juízo que deve determinar as especulações científicas, pois alia universalidade e necessidade, à nossa capacidade de sintetizar informações vindas da sensibilidade.

Ou seja, a revolução kantiana altera completamente a maneira de pensar a relação entre objeto e sujeito: se antes, o conhecimento era regulado pelos objetos, com o Juízo sintético a priori, os objetos passam a ser regulados pelo nosso conhecimento. Isso quer dizer que Kant revoluciona a Lógica Tradicional, ao afirmar que o sujeito não pode ter acesso à coisa em-si, mas somente à maneira como essa coisa se apresenta a ele, de acordo com suas cognições sensíveis e intelectivas.

É a partir dessa revolução na relação entre sujeito e objeto, que posteriormente Kant vai investigar e determinar a divisão do conhecimento entre sensibilidade (capacidade de sermos afetados pelos objetos) e pensamento (capacidade do entendimento em produzir representações a partir dos dados obtidos com a sensibilidade).

Logo, Kant tinha razão quando comparava sua teoria à revolução de Copérnico: o astrônomo decretou uma nova visão geocêntrica, onde a Terra deixava de ser o centro imóvel do universo, para colocá-la em movimento, orbitando o Sol; da mesma maneira, Kant remove os objetos do centro de nossa percepção, e no lugar deles, coloca o sujeito e as relações que ele estabelece, pela sensibilidade e pelo pensamento, com tais objetos para a produção de conhecimento.

3) Qual é a grande novidade da proposta ética kantiana?

Se na Crítica da Razão Pura, Kant procurou delinear os novos contornos sobre o conhecimento, na Crítica da Razão Prática, ele determinou como este conhecimento pode ser utilizado para a vida moral.

Para isso, definiu as máximas morais (válidas apenas para a vontade do sujeito, para determinados propósitos) e as leis morais (objetivas e válidas para qualquer vontade racional).

As leis morais, de cunho universal a todos os homens, foram postuladas por Kant a partir de seus imperativos: hipotético (visam a um determinado fim, como se a obediência humana a eles objetivasse, apenas, alcançar determinada meta) e o categórico (lei universal de conduta, independentemente da vontade do sujeito ou do fim que ele pretende alcançar).

Assim, a grande novidade da ética kantiana, consiste em determinar as leis morais a partir de seus imperativos, concebendo uma doutrina moral que não se submete mais aos dogmas metafísicos, mas que é racional. Não se deve trair a esposa porque vai contra o mandamento divino, e sim porque trair a esposa não pode ser uma regra universal. Se não é prudente, nem saudável, que todos os maridos traiam suas esposas, então trair a esposa não pode ser considerada uma ação moral. 

Logo, a principal novidade consiste em universalizar a regra moral: só posso agir de determinada maneira, se eu considerar correto que, universalmente, todos ajam da mesma maneira. Trata-se, portanto, de uma regra moral racional, desvinculada de medos metafísicos e, sobretudo, desvinculada do resultado que pretende-se alcançar: age-se moralmente porque é o correto a ser feito, e não por medo de qualquer punição. 

4) Poderíamos dizer que, ao nos submetermos aos imperativos éticos kantianos, perderíamos nossa liberdade?

Depende do que entendemos sobre liberdade. Para Kant, é livre o homem que não é vítima de seus impulsos, de suas vontades instáveis. E para não sermos vítimas de tais paixões, o imperativo categórico nos libertaria, pois estaríamos pautados a partir de ações "boas em si mesmas", e não boas apenas para um fim determinado. Neste sentido, os imperativos categóricos nos tornariam livres, pois deixaríamos de ser presas de nossos quereres.

Logo, os imperativos poderiam ser entendidos como submissão voluntária, pelo gosto do puro dever, o que não significaria, em tese, perda da liberdade. Ao contrário, proporcionaria a libertação humana ao nos tornar autônomos de nossos interesses particulares, sem qualquer objetivo específico, que não a universalidade das condutas entre os indivíduos. 

Nietzsche, ao contrário, considerou tais imperativos como afrontas à capacidade humana de superar-se, de ir além das regras morais que tolhem o potencial humano, uma obediência cega e irracional à tradição, que nele provoca risos:

"E agora não me fale de imperativo categórico, meu amigo! - esse termo faz cócegas em meus ouvidos, e tenho que rir, apesar de tua presença tão grave: em face dele, eu penso no velho Kant, que, como castigo por ter deixado escapar "a coisa em si" - também uma coisa muito ridícula! -, foi colhido pelo "imperativo categórico", e com ele retornou de novo, de coração e por engano, para "Deus", "alma", "liberdade" e "imortalidade", igual a uma raposa que retornou por engano à sua jaula: - e tinham sido sua força e inteligência que haviam arrombado a jaula! - Como? Admiras o imperativo categórico em ti? Essa "solidez" do teu chamado juízo moral? Essa "incondicionalidade" do sentimento: "assim como eu, todos deveriam julgar assim a respeito disso"? Admira antes teu próprio egoísmo nisso! E a cegueira, a pequenez e a falta de exigência de teu egoísmo! A saber, o egoísmo é sentir seu juízo como lei universal; e, de novo, um egoísmo cego, pequeno e não exigente, pois ele denuncia que tu mesmo ainda não te descobriste, ainda não criaste, para ti mesmo, nenhum Si-Próprio, um ideal ipssímo: - este, com efeito, jamais poderia ser o ideal de um outro, quanto mais então de todos, de todos! (Nietzsche, apud Giacóia Junior, p. 25 e 26). 

Assim, podemos entender que o imperativo categórico, por um lado, proporcionaria liberdade ao indivíduo, que permaneceria ileso diante de suas paixões e impulsos, se auto-imputando uma moral universal, de acordo com o dever e não com a vontade.

Por outro lado, podemos entender tal imperativo como tolhedor da liberdade alheia, onde o ideal de certos membros da sociedade, por assim considerarem correto, tornar-se-ia o ideal de todos, de maneira unânime, tornando todos reféns, e não libertos, de uma moral que assola e exige dos indivíduos, o ideal ascético da sujeição consentida e resignada.

Portanto, para responder a essa questão, precisaríamos ter pré-definido o ideal de liberdade, diverso em cada indivíduo.

Posicionamento crítico: 

1. Imposição de limites à Metafísica

Kant limita a Metafísica ao descredenciá-la como objeto de especulação científica. No caso de Deus, por exemplo: se cabe à sensibilidade a capacidade de sermos afetados pelos objetos e se essa afetação depende de os objetos estarem situados no espaço e no tempo, não há como especular, cientificamente, sobre sua existência - pois imagina-se que este ente mítico esteja "além" de qualquer definição espaço-temporal.

Logo, entendo que Kant não refutou a metafísica, que cumpre seu papel ao especular sobre o mundo. Mas deixou de atribuir-lhe validação científica, propondo que ao homem não cabe investigar os objetos que estejam foram de seu alcance, como o caso de Deus ou qualquer outra questão não reconhecível pela sensibilidade.

Portanto, se segundo Aristóteles, a metafísica é "uma ciência que investiga o ser como ser e as propriedades que lhe são inerentes devido à sua própria natureza" (2006), e se Kant refuta em seu sistema filosófico a possibilidade de o sujeito conhecer a coisa em si, mas apenas como ela se apresenta ao sujeito a partir da sensibilidade e do pensamento, podemos concluir que a Metafísica tenha sido limitada pelo pensador alemão, ao menos enquanto possibilidade científica de investigação do mundo.

2. Possibilidade da ética kantiana para a ação humana

Em um primeiro momento, parece óbvio afirmar a perfeição de uma sociedade em que só poderíamos tomar decisões/ações que consideraríamos aceitáveis universalmente, de modo que, se todos agíssemos desta maneira, teríamos um mundo mais justo e de ações mais harmoniosas entre os seus sujeitos. Além disso, a moralidade proposta por Kant, parece antever os anseios modernos para as relações humanas:

"A dignidade da pessoa decorre, para Kant, da liberdade e da autonomia, enquanto capacidade ou poder legislador, visando a autorrealização da humanidade em todas as suas disposições naturais (...). A filosofia prática de Kant conserva hoje toda a sua atualidade e fecundidade porque dá às noções de dignidade e de pessoa uma conteúdo axiológico plenamente convergente com os requisitos da modernidade ético-jurídico-política, enquanto era do desencantamento do mundo". (GIACÓIA JUNIOR, p. 22 e 23).

Contudo, penso que não seja possível, à humanidade, agir de acordo com o imperativo categórico kantiano, uma vez que somos animais, que apesar da razão, agimos de acordo com nossas paixões e impulsos.

Não há como desatrelar nossos interesses particulares das decisões que tomamos, uma vez que procuramos a sobrevivência, à parte de qualquer imperativo moral social.

Todos agimos de acordo com nossas conveniências e necessidades, sem que isso, ao meu modo de ver, possa ser considerado um ato imoral. A moralidade, apesar do que propõe Kant, não pode ser considerada universal, pois não são universais os interesses e necessidades humanas. Há que se considerar a cultura, o meio e a sobrevivência.

Por exemplo: podemos considerar a regra "não matar", como um imperativo categórico. Entendemos todos, enquanto sujeitos racionais, que a prática do assassinato deva ser condenada por ser moralmente inaceitável.

Contudo, há tribos à margem deste consenso sobre a morte, em que crianças que nascem abaixo do peso ou com qualquer outra deficiência física, são sacrificadas em nome da sobrevivência do grupo: crianças que nascem com problemas físicos demandariam cuidados especiais de determinadas tribos, colocando em risco os sujeitos saudáveis, que passariam a vida defendendo o sujeito mais fraco.

Para nós, ocidentais e em processo de inclusão social, parece-nos absurda a idéia de sacrificar uma criança surda, por exemplo. Mas este código moral cabe apenas a nós, sujeitos ocidentais, criados a partir deste determinado código. Como exigir que tribos isoladas, com outra cultura e modos de sobrevivência, ajam de acordo com este nosso imperativo?

Portanto, embora eu acredite que o imperativo categórico (o dever pelo dever e não de acordo com necessidades específicas) pudesse ser colocado em prática e que isso talvez fizesse do mundo um lugar mais harmonioso, penso também que tal ação, homogênea e pautada exclusivamente pelo dever, à parte de nossos impulsos, além de muito pouco provável, tornaria, a nós todos, sujeitos mecanizados, onde a cultura e os interesses particulares não seriam levados em consideração. Um mundo, como disse, muito pouco provável e, em sendo possível, insosso, homogêneo, cristalizado. Um mundo assujeitador de sujeitos arrebanhados, estáticos, obedientes e pouco críticos. Um mundo do qual eu não gostaria de fazer parte.

FONTES DE CONSULTA:

KRASTOV, Stefan Vassilev; CRESPO, Luís Fernando; BOTELHO, Osmair Severino. CRC História da Filosofia Contemporânea I, CEUCLAR.

JUNIOR, Oswaldo Giacoia. Nietzsche X Kant: Uma Disputa Permanente a Respeito de Liberdade, Autonomia e Dever. São Paulo: Casa da Palavra, 2012.

ARISTÓTELES. Metafísica. Coleção Os Pensadores, Volume I. São Paulo: Nova Cultural, 1985.

ADAMS, Adair; MATOS, Edegar Soares de. Aspectos de uma Metafísica em Kant. Disponível em: < http://www.artigocientifico.com.br/uploads/artc_1302033289_12.pdf >. Acesso em 28 abril 2013.

DESTÁCIO, Mauro Celso. Imperativo Categórico. Disponível em: < www.eca.usp.br/nucleos/filocom/mauro.doc >. Acesso em 28 abril 2013.

Melhor representante do Iluminismo




No século XVIII, o Iluminismo despontou como um dos maiores movimentos culturais da História, com a pretensão de, a partir da razão, lançar suas luzes sobre a humanidade. 

Os pensadores que estruturaram conceitualmente o Iluminismo, acreditavam que o progresso material, intelectual e moral do homem só seria possível através do exercício racional do modo de pensar o mundo, libertando-o dos dogmas da herança Medieval.

Vale lembrar que o Período Medieval, que precedeu o Iluminismo, foi marcado por um forte cunho religioso e de governo monárquico baseado na predestinação sobrenatural, em que os reis exerciam o poder, amparados por uma escolha divina, razão pela qual se auto-proclamavam no direito de sobrepujar aos seus governados.

Já o movimento das Luzes, tendo como premissa ser a razão a única ferramenta capaz de permitir a compreensão sobre o mundo, caracterizou-se como o eco dos anseios burgueses por deslocamento social e tomada de poder das mãos tirânicas, se expandindo por toda a Europa, sobretudo na Inglaterra, França e Alemanha.

Assim, cada um destes países vinculou-se ao Iluminismo a partir de características específicas, ainda que sempre atrelados aos principais conceitos propostos pelas Luzes, sendo eles:

*Primado da razão face ao obscuro Período Medieval;
*Resgate da humanidade de suas irracionais superstições;
*Defesa dos direitos naturais dos homens, contra a opressão monárquica;
*Luta contra qualquer tipo de tirania absoluta;
*Negação da metafísica;
*Defesa do deísmo em contraposição às religiões positivas;
*Afirmação da ciência como base do conhecimento.

Realizado este breve apanhado histórico, poderemos analisar, dentre os pensadores do Iluminismo, qual deles mais reflete os ideais do período: Voltaire. Partindo dos três principais pilares do Iluminismo (revolução religiosa, política e moral/metafísica), vamos atrelá-los às idéias de Voltaire.

Considerado como um dos maiores iluministas, François Marie Arouet, verdadeiro nome do pseudônimo Voltaire, sob forte influência do Iluminismo inglês, coadunou as principais características das Luzes, o que levou, por essa razão, a ser preso inúmeras vezes, ter seus livros queimados em praça pública e a viver em constante fuga das ameaças de prisão e morte.

A primeira característica que acreditamos fazer de Voltaire o mais expressivo dos iluministas, relaciona-se com suas reflexões sobre a fé. O Iluminismo não foi um movimento ateu, pois a maioria de seus pensadores eram deístas, assim como Voltaire. Crendo na chamada Religião Natural, Voltaire dialogou com este que é um dos pilares do Iluminismo: não se destrona a figura divina, mas se deixa de creditar-lhe poderes de interferência sobre a vida humana, já que a concepção deísta acreditava na existência de um poder sobrenatural de criação do mundo, embora defendesse que tal poder não interviesse no destino dos homens, tampouco ouvisse suas preces e desejos. 

Assim, Voltaire não critica a religião em si, mas as superstições infundadas que tolhem a potência humana. Com isso, postulava uma vida baseada na razão, na racionalização das experiências, outorgando ao homem os deveres e direitos mitigados pelo Período Medieval, a liberdade de escolha, indo de encontro à luta iluminista contra os dogmas religiosos, libertando o homem de suas prisões metafísicas. 

Além disso, Voltaire era um exímio escritor, utilizando seus panfletos e livros para a divulgação dos ideais iluministas de insurgência contra o poder monárquico. Não que fosse contra a monarquia, mas por ter tido acesso ao modelo monárquico inglês, Voltaire defendia um despotismo aberto, sem arbitrariedade, um poder esclarecido aos seus governados, que permitisse-lhes a liberdade de expressão (ainda que não a liberdade política).

Acreditando que coubesse ao rei um preparo filosófico para a condução dos homens à felicidade, o pensador francês idealizava uma monarquia amparada pela razão, não submetida às ordens religiosas.

Por fim, Voltaire se expressa como autêntico iluminista ao questionar a subjetividade das crenças metafísicas, questionando as noções de destino, natureza humana, trabalho, felicidade. Para o pensador, assim como para os demais iluministas, não haveria razão suficiente para justificar as crenças metafísicas, nem o homem condições para especular com segurança sobre o poder divino e a realidade transcendente, devendo centrar-se nas questões reais, ao alcance real dos homens, para que pudessem, mediante a razão, transformá-las.

Desta maneira, podemos entender que Voltaire, se não foi o maior iluminista, ao menos defendeu posicionamentos que expressaram claramente os maiores preceitos do Iluminismo: tolerância religiosa (ainda que fosse deísta), o exercício do poder mediante uso da razão, com esteio filosófico e sem arbitrariedades (embora não fosse contra a monarquia) e crítica à metafísica especulativa vazia, sem amparo racional (embora também filosofasse sobre assuntos caros à chamada metafísica).

Portanto, atendendo à solicitação do Fórum, podemos entender as contribuições de Voltaire da seguinte maneira:

Contribuição na educação: Com Voltaire, o sujeito torna-se histórico, uma vez que o pensador ressalta a importância do conhecimento dos fatos históricos para o desenvolvimento do aluno. Este preceito visava ao maior objetivo de Voltaire: a luta contra o fanatismo e a intolerância, premissas indispensáveis para o livre exercício da razão.

Contribuição Política: Voltaire contribuiu para a política francesa ao defender que a Igreja não deveria intervir nos aspectos políticos, de maneira a não legitimar apenas uma pequena parcela dos interesses da sociedade. Combatia o obscurantismo do absolutismo, defendendo que caberia ao rei um preparo filosófico para o comando do povo. Além disso, uma política livre da opressão religiosa, possibilitaria o livre mercado e o livre desenvolvimento intelectual, de acordo com o talento e propensão próprios a cada indivíduo, levando à prosperidade econômica.

Contribuição Científica: Surpreendido com a física de Newton, Voltaire foi o seu maior propagador. Movido por esse interesse, Voltaire comparava as leis da física proposta por Newton com a imagem do Deus escolástico, corroborando na negação dos dogmas cristãos, mediante o conhecimento físico da natureza.

Natachy Petrini

FONTE DE CONSULTA:

KRASTANOV, Stefan Vassilev; CRESPO, Luís Fernando; BOTELHO, Osmair Severino. CRC História da Filosofia Contemporânea I, CEUCLAR.

SILVA, Rafael da. Iluminismo. Disponível em: < http://www.ebah.com.br/content/ABAAAenTIAE/iluminismo >. Acesso em 11 Março 2013.

GONZÁLEZ, Ethiel Omar Cartes. O Iluminismo Francês. Disponível em: < http://www.freemasons-freemasonry.com/Iluminismo_Francés.html >. Acesso em 09 Março 2013.

O Iluminismo. Disponível em: < http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/iluminismo.htm >. Acesso em 09 Março 2013.

A Importância do Iluminismo Francês. Disponível em: < http://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/a-importancia-do-iluminismo-frances-.htm >. Acesso em 09 Março 2013.

PEREIRA, João Paulo Rodrigues. A Existência de Deus na Perspectiva de Voltaire. Disponível em: < http://pensamentoextemporaneo.wordpress.com/2010/05/29/a-existencia-de-deus-na-perspectiva-de-voltaire/ >. Acesso em 09 Março 2013.

Filosofia da Mente

Fórum I Filosofia da Mente

1) Quais os argumentos utilizados para combater o dualismo antropológico e o monismo naturalista e compreender o homem como uma "unidade indissolúvel, um ser que não pode caber em nenhum reducionismo"?

Para combater as ideias fragmentadas sobre a natureza humana, a Antropologia Filosófica procura unificar as dimensões constitutivas do indivíduo, entendendo-o como um ser de unidade, integral. 

No dualismo antropológico, corrente filosófica de projeção no século XVIII, o homem é visto como um ser constituído por duas dimensões separadas (corpo e alma), irredutíveis entre si, tendo a alma supremacia sobre o corpo físico, que é mortal e se degenera. Essa visão que distingue corpo e alma remete aos pitagóricos e recebeu esteio,sobretudo, da filosofia platônica e cartesiana. 

Já o monismo naturalista, corrente filosófica que refuta a constituição humana como sendo a de princípios distintos, defende haver uma substância única no indivíduo, e prevê que corpo e alma são partes integrantes e reduzidas, no homem, de um mesmo princípio fundamental. 

Dito isto, podemos entender que tanto o dualismo quanto o monismo, restringiram a compreensão sobre o homem, considerando apenas recortes sobre sua realidade e dimensão. Tais concepções, desenvolvidas sob diferentes aspectos e por vários autores, criaram uma visão bricolada de homem, que desarticulado em sua composição, mais se parece a uma colcha de retalhos solúvel, do que a um ser complexo, que embora plural, mantém uma característica singularmente humana.

Assim, o principal argumento que procura combater tais visões sobre o homem, é o que defende sua espiritualidade - onde, é importante ressaltar, o termo "espírito" não recebe designação religiosa, mas sim uma certa capacidade de transcender aos meros conceitos físicos e mentais das correntes filosóficas que antecederam tal conceito.

Portanto, a idéia de espírito prega a liberdade humana em não submeter-se às amarras físicas e às de seus impulsos e desejos, permitindo ao homem transitar por tais circunstâncias, de maneira transcendente, tornando-o sujeito do mundo, e não mais a ele sujeitado.

A Antropologia Filosófica entende, portanto, como sendo o espírito, a dimensão que faz do homem um sujeito, que não o reduz a uma máquina biológica/ou corporal/ou mental, mas, ao contrário, atrela, a partir dele, todas essas esferas, unificando-o, hominizando-o. 

Assim, o homem passa a diferir-se dos demais organismos vivos, não mais por sua condição física ou de raciocínio. Mas porque transcende o meio e suas necessidades, tornando-se um "eu", uma nova realidade repleta de significados. Não deixa de ser um animal, mas não fica reduzido a ele. 

Não deixa de possuir instintos, mas os domina, de maneira individualizada, para satisfazer suas necessidades. Configura-se, assim, como um ser integrante da natureza, mas ao mesmo tempo, dela apartado em razão das condições que somente a ele são próprias. 

Ou seja, o homem, enquanto animal passível de evolução biológica, também sente fome e dor, tal quais os outros animais. Mas de acordo com a concepção da Antropologia Filosófica, é o único ser capaz de dar sentido a essas necessidades, indo além dos simples atos de comer e medicar-se, mas, sobretudo, também o de refletir sobre sua condição, convertendo-se no objeto de sua própria reflexão e análise, conferindo-lhe uma identidade. 

Portanto, para entender o homem como um sujeito integral, composto por suas diversas dimensões (psicológica, biológica, física e espiritual), a Antropologia Filosófica investiga uma unidade universal entre os homens, algo que os tornem únicos, homens e não apenas animais.

2) De que forma a cultura e a sociedade estão relacionadas ao processo de constituição do homem?

Apesar desta unidade intrínseca ao ser humano, o indivíduo não nasce pronto, mas vai estabelecendo, ao longo de sua vida, relações de afeto, compreensão e significado com o mundo que o rodeia. Desta maneira, a forma como o homem é acolhido e se desenvolve na sociedade na qual está incluído, interfere diretamente em seu processo de constituição enquanto sujeito. 

Com características sociais, embasadas no próprio processo de evolução, o homem mantém-se, durante toda a sua vida, dependente do relacionamento com o outro. Sendo um mamífero frágil, que requer cuidados maternos especiais por um longo período, o homem projeta essa condição de fragilidade em todas as etapas de seu desenvolvimento, mesmo quando adulto. Se nos primeiros anos de vida sua segurança depende da mãe, na vida adulta, o mamífero homem, distinto dos demais animais, passa a depender de suas relações sociais e culturais. 

Neste processo de construção do Eu, influem sobre o sujeito o amor que recebe e oferta aos seus pares, a educação que recebe para o desenvolvimento de sua personalidade e as sensações que absorvem do mundo físico. Ou seja, a constituição do sujeito depende de suas dimensões: a biológica (mapa genético, capacidade de adaptação física a aspectos geográficos, hereditariedade etc.), a psicológica (problematização do sujeito, interpretação das sensações advindas do contato empírico com a realidade) e espiritual (processo de abstração do sujeito, significação da realidade temporal etc.).

No entanto, apesar de todos os homens interagirem e se formarem mediante as mesmas dimensões, cada homem se constitui de uma maneira diferente, de acordo com a cultura e sociedade no qual está inserido.

Assim, o homem torna-se, ao mesmo tempo, causa e objeto da cultura e sociedade em que vive, onde exerce sobre elas seu poder de criação, ao passo que, de igual maneira, sofre também as influências do que criou. Se ao homem cabe desenvolver suas potencialidades humanas, parte significativa deste desenvolvimento é atrelada ao meio em que vive, singularizando cada homem, de acordo com a moldura cultural que recebeu.

Portanto, embora haja uma unidade universal entre os humanos, cada ser possui sua singularidade, que é construída de acordo com o seu meio. Esta condição torna cada indivíduo único, agente e objeto de sua sociedade e cultura, subjetivando os conceitos de moral, legalidade, afeto e modo de estar no mundo. Por isso, ao passo que a constituição do homem é formada de acordo com a sociedade da qual faz parte, esta sociedade, sob a influência deste ser social e cultural, é também por ele modificada, cumprindo a simbiose entre sujeito e sociedade, em uma relação recíproca e interdependente. 

Natachy Petrini


FONTE DE CONSULTA:
ACHA, Juan Antonio; PIVA, Sérgio Ibanor. Antropologia Filosófica. Batatais: Claretiano, 2012 CRC da Disciplina.

Diferenças entre a concepção do homem greco romano e medieval


Fórum I - Antropologia Filosófica

Quais as semelhanças e diferenças entre a concepção do homem na antiguidade greco-romana e na época medieval?



A concepção sobre o homem na Filosofia Greco-Romana
Os primeiros pensadores da Grécia Antiga, Heráclito, Parmênides, Pitágoras, Sócrates, Platão e Aristóteles, passaram a refletir sobre a condição humana para além das alegorias e fábulas metafóricas do período mítico.

Remontando a esses pensadores, embora não se tratasse, especificamente, de uma verdadeira Antropologia Filosófica, todos esses filósofos refletiram, a partir de suas concepções teóricas, sobre os indivíduos, sua essência, sobre o que os tornariam, de fato, humanos. Logo, esboçaram o esteio do que viria a ser a Antropologia Filosófica contemporânea.

Com o surgimento das pólis e a agitação cultural da época, as reflexões sobre a concepção humana foram se desenvolvendo junto às cidades, culminando na concepção naturalista sobre o homem no período Greco-romano.

Na fase pré-socrática, de cunho efetivamente naturalista, os filósofos especulavam sobre a natureza do homem, tornando-o “a medida de todas as coisas”, para citar o sofista Protágoras.
Por sua vez, Heráclito e Parmênides debruçaram-se, tais quais os pensadores de seu tempo, sobre a natureza das coisas, elevando o homem sobre os demais seres vivos, dotando-o da capacidade primordial de apreensão da realidade.

Pitágoras, precursor da escola filosófica que leva seu nome, defendia a pré-existência de uma alma imortal com relação ao corpo. Nessa dualidade, por um lado a alma recebe status divino, enquanto o corpo, o de degradado pela corrupção natural.

Em Sócrates, a concepção sobre o homem passa a refletir sua capacidade de conhecer-se a si mesmo, de raciocinar sobre as próprias verdades e a verdade do mundo, a partir da interlocução interrogativa com seus pares e o meio, incentivando a dúvida sobre as certezas, até então, aceitas tacitamente.
Com Platão, parte da concepção dualista de Pitágoras é retomada, instrumentalizando o corpo em favor da alma. Tal como Pitágoras, defendia a pré-existência e a imortalidade da alma. Podemos entender, em Platão, a concepção humana através do Mito da Caverna, onde descreve a metáfora de um prisioneiro absorto no mundo sensível e que, mediante reflexão e certa dor, supera a condição de prisioneiro em busca da verdade.

Já com Aristóteles, a concepção sobre o homem pode ser entendida através do conceito de ato e potência. Nela, defende que todo ser possui uma substância onde coexistem matéria e forma, potência e ato.  Assim, Aristóteles refuta o dualismo platônico ao defender que alma e corpo não podem existir separadamente, mas que coexistem na substância, sendo a potência humana sua essência, e a existência, a potência atualizada em ato.

Com isso, podemos observar que a característica predominante da concepção humana no período Grego, a partir do pensamento de seus principais filósofos, consiste em focar no homem, no exercício de desvendar sua natureza, composição, estrutura e estar no mundo. Analisando sua constituição, os gregos singularizaram o homem, tornando-o único entre os seres vivos.

Já no período denominado Helenista, em razão das próprias condições culturais e sociais pelas quais passavam as cidades da região, a especulação sobre a natureza do homem perde espaço para a análise das experiências humanas, nas elucubrações sobre o seu comportamento e o seu modo de estar, praticamente, no mundo.

Nessa fase de transição entre a Filosofia Antiga e Medieval, correntes filosóficas também se propuseram a pensar a concepção humana, tais como o Hedonismo (o homem deve buscar o prazer), o Estoicismo (o homem deve se resignar e controlar seus impulsos) e o Neoplatonismo (cabe ao homem mergulhar na meditação filosófica para superar a imperfeição).
Após esse período de transição, o cristianismo ganha força, desviando as especulações da concepção humana antropocêntrica para teocêntrica, onde o homem passa a ser medido e pensado pela figura divina e não mais por sua natureza.

A concepção sobre o homem no Período Medieval

No assim chamado Período Medieval, sob influência do neoplatonismo, os seus principais pensadores procuraram aliar elementos da Filosofia Greco-romana à ética cristã.

Era preciso adaptar os preceitos cristãos de revelação divina aos elementos filosóficos dos períodos que antecederam o Medievo. Para isso, a concepção do homem na Idade Média contou, sobretudo, com Santo Agostinho e Santo Thomas de Aquino.

Com influência platônica e neoplatônica, para Santo Agostinho, o homem é a imagem de Deus e é a partir do conhecimento que o homem tem sobre si mesmo, que pode chegar à divindade. Para isso, ele precisa conhecer-se interiormente, de maneira a alcançar a graça divina.

Já Thomas de Aquino fundamenta sua filosofia em Aristóteles, em detrimento aos preceitos platônicos. Por isso defende a unidade das formas e a sujeição da alma vegetativa e sensível à alma racional. Com isso, Thomas de Aquino busca ampliar o poder da fé sobre a razão.

Desta maneira, se na Filosofia Greco-romana a concepção sobre o homem é antropológica, voltada para o estudo de sua natureza e constituição, no Período Medieval essa concepção torna-se teocêntrica, onde o homem deixa de ser a medida de todas as coisas para tornar-se presa dos mandamentos divinos.

Natachy Petrini

FONTE DE CONSULTA:
ACHA, Juan Antonio; PIVA, Sérgio Ibanor. Antropologia Filosófica. Batatais: Claretiano, 2012 CRC da Disciplina.
FERNANDES, Vicente Sérgio Brasil. Período Greco Romano no Mundo Medieval. Disponível em: < http://olhar-filosofico.blogspot.com.br/2012/03/periodo-greco-romano-no-universo.html >
OLIVEIRA, Fabiano Viana. Notas de Aula – Antropologia Filosófica. Disponível em: < http://olhar-filosofico.blogspot.com.br/2012/03/periodo-greco-romano-no-universo.html >