sexta-feira, 3 de maio de 2013

Filosofia da Mente

Fórum I Filosofia da Mente

1) Quais os argumentos utilizados para combater o dualismo antropológico e o monismo naturalista e compreender o homem como uma "unidade indissolúvel, um ser que não pode caber em nenhum reducionismo"?

Para combater as ideias fragmentadas sobre a natureza humana, a Antropologia Filosófica procura unificar as dimensões constitutivas do indivíduo, entendendo-o como um ser de unidade, integral. 

No dualismo antropológico, corrente filosófica de projeção no século XVIII, o homem é visto como um ser constituído por duas dimensões separadas (corpo e alma), irredutíveis entre si, tendo a alma supremacia sobre o corpo físico, que é mortal e se degenera. Essa visão que distingue corpo e alma remete aos pitagóricos e recebeu esteio,sobretudo, da filosofia platônica e cartesiana. 

Já o monismo naturalista, corrente filosófica que refuta a constituição humana como sendo a de princípios distintos, defende haver uma substância única no indivíduo, e prevê que corpo e alma são partes integrantes e reduzidas, no homem, de um mesmo princípio fundamental. 

Dito isto, podemos entender que tanto o dualismo quanto o monismo, restringiram a compreensão sobre o homem, considerando apenas recortes sobre sua realidade e dimensão. Tais concepções, desenvolvidas sob diferentes aspectos e por vários autores, criaram uma visão bricolada de homem, que desarticulado em sua composição, mais se parece a uma colcha de retalhos solúvel, do que a um ser complexo, que embora plural, mantém uma característica singularmente humana.

Assim, o principal argumento que procura combater tais visões sobre o homem, é o que defende sua espiritualidade - onde, é importante ressaltar, o termo "espírito" não recebe designação religiosa, mas sim uma certa capacidade de transcender aos meros conceitos físicos e mentais das correntes filosóficas que antecederam tal conceito.

Portanto, a idéia de espírito prega a liberdade humana em não submeter-se às amarras físicas e às de seus impulsos e desejos, permitindo ao homem transitar por tais circunstâncias, de maneira transcendente, tornando-o sujeito do mundo, e não mais a ele sujeitado.

A Antropologia Filosófica entende, portanto, como sendo o espírito, a dimensão que faz do homem um sujeito, que não o reduz a uma máquina biológica/ou corporal/ou mental, mas, ao contrário, atrela, a partir dele, todas essas esferas, unificando-o, hominizando-o. 

Assim, o homem passa a diferir-se dos demais organismos vivos, não mais por sua condição física ou de raciocínio. Mas porque transcende o meio e suas necessidades, tornando-se um "eu", uma nova realidade repleta de significados. Não deixa de ser um animal, mas não fica reduzido a ele. 

Não deixa de possuir instintos, mas os domina, de maneira individualizada, para satisfazer suas necessidades. Configura-se, assim, como um ser integrante da natureza, mas ao mesmo tempo, dela apartado em razão das condições que somente a ele são próprias. 

Ou seja, o homem, enquanto animal passível de evolução biológica, também sente fome e dor, tal quais os outros animais. Mas de acordo com a concepção da Antropologia Filosófica, é o único ser capaz de dar sentido a essas necessidades, indo além dos simples atos de comer e medicar-se, mas, sobretudo, também o de refletir sobre sua condição, convertendo-se no objeto de sua própria reflexão e análise, conferindo-lhe uma identidade. 

Portanto, para entender o homem como um sujeito integral, composto por suas diversas dimensões (psicológica, biológica, física e espiritual), a Antropologia Filosófica investiga uma unidade universal entre os homens, algo que os tornem únicos, homens e não apenas animais.

2) De que forma a cultura e a sociedade estão relacionadas ao processo de constituição do homem?

Apesar desta unidade intrínseca ao ser humano, o indivíduo não nasce pronto, mas vai estabelecendo, ao longo de sua vida, relações de afeto, compreensão e significado com o mundo que o rodeia. Desta maneira, a forma como o homem é acolhido e se desenvolve na sociedade na qual está incluído, interfere diretamente em seu processo de constituição enquanto sujeito. 

Com características sociais, embasadas no próprio processo de evolução, o homem mantém-se, durante toda a sua vida, dependente do relacionamento com o outro. Sendo um mamífero frágil, que requer cuidados maternos especiais por um longo período, o homem projeta essa condição de fragilidade em todas as etapas de seu desenvolvimento, mesmo quando adulto. Se nos primeiros anos de vida sua segurança depende da mãe, na vida adulta, o mamífero homem, distinto dos demais animais, passa a depender de suas relações sociais e culturais. 

Neste processo de construção do Eu, influem sobre o sujeito o amor que recebe e oferta aos seus pares, a educação que recebe para o desenvolvimento de sua personalidade e as sensações que absorvem do mundo físico. Ou seja, a constituição do sujeito depende de suas dimensões: a biológica (mapa genético, capacidade de adaptação física a aspectos geográficos, hereditariedade etc.), a psicológica (problematização do sujeito, interpretação das sensações advindas do contato empírico com a realidade) e espiritual (processo de abstração do sujeito, significação da realidade temporal etc.).

No entanto, apesar de todos os homens interagirem e se formarem mediante as mesmas dimensões, cada homem se constitui de uma maneira diferente, de acordo com a cultura e sociedade no qual está inserido.

Assim, o homem torna-se, ao mesmo tempo, causa e objeto da cultura e sociedade em que vive, onde exerce sobre elas seu poder de criação, ao passo que, de igual maneira, sofre também as influências do que criou. Se ao homem cabe desenvolver suas potencialidades humanas, parte significativa deste desenvolvimento é atrelada ao meio em que vive, singularizando cada homem, de acordo com a moldura cultural que recebeu.

Portanto, embora haja uma unidade universal entre os humanos, cada ser possui sua singularidade, que é construída de acordo com o seu meio. Esta condição torna cada indivíduo único, agente e objeto de sua sociedade e cultura, subjetivando os conceitos de moral, legalidade, afeto e modo de estar no mundo. Por isso, ao passo que a constituição do homem é formada de acordo com a sociedade da qual faz parte, esta sociedade, sob a influência deste ser social e cultural, é também por ele modificada, cumprindo a simbiose entre sujeito e sociedade, em uma relação recíproca e interdependente. 

Natachy Petrini


FONTE DE CONSULTA:
ACHA, Juan Antonio; PIVA, Sérgio Ibanor. Antropologia Filosófica. Batatais: Claretiano, 2012 CRC da Disciplina.

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