segunda-feira, 7 de maio de 2012

Fórum II Fundamentos do Ensino da Filosofia


A proposta apresentada neste módulo é a de análise dos diferentes métodos de ensino de Filosofia, sua identificação política estruturada nos PCN’s e sua relação com o Ensino Médio e o Ensino Superior. Analise, com seus colegas de curso, como essas diferentes abordagens podem auxiliar na formação do educador da filosofia. Diante dos desafios que se apresentam para a realidade da escola, é possível ensinar a Filosofia? Disponibilize, no Fórum 2, os comentários sobre suas pesquisas.



Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) fazem parte das reformas educacionais, que a exemplo do que tem ocorrido ao redor do mundo, também vem sendo realizadas, nas últimas décadas, no Brasil.

Os PCNs são os referenciais instituídos pelo Ministério da Educação, como forma de subsidiar a formação e a prática docente no país. Assim, os PCNs foram dispostos como ferramentas, sobretudo aos educadores, para que os mesmos possam refletir e problematizar sobre as questões mais importantes do ensino, tais como a revisão dos objetivos pedagógicos, organização do espaço e do tempo no ambiente escolar, instruções didáticas sobre o que leva os alunos a participarem das aulas, planejamento e readequações para o trabalho em sala de aula etc.

No Ensino Fundamental, os PCNs apontam para a estruturação das disciplinas por área de conhecimento (língua portuguesa, matemática, história etc.), além de incluir temas transversais e de pluralidade cultural, capturando o interesse do aluno e superando as dificuldades mais comuns do Ensino Fundamental, como a evasão escolar e o desinteresse dos alunos. Com base nisso, pretende-se a formação de cidadãos mais críticos e capazes de mudar a realidade brasileira:

“A sociedade brasileira demanda uma educação de qualidade, que garanta as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem e na qual esperam ver atendidas suas necessidades individuais, sociais, políticas e econômicas.”


Já os PCNs do Ensino Médio, onde a Filosofia tornou-se disciplina obrigatória, o enfoque pedagógico é na construção de um indivíduo pronto para as pluralidades do mundo contemporâneo, sujeito bricolado, formado por diversos saberes que, juntos, possibilitem o alcance das demandas modernas de trabalho e sociedade:

“Para tanto, é necessário que, no processo de ensino e aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de metodologias capazes de priorizar a construção de estratégias de verificação e comprovação de hipóteses na construção do conhecimento, a construção de argumentação capaz de controlar os resultados desse processo, o desenvolvimento do espírito crítico capaz de favorecer a criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógicos das explicações propostas. Além disso, é necessário ter em conta uma dinâmica de ensino que favoreça não só o descobrimento das potencialidades do trabalho individual, mas também, e sobretudo, do trabalho coletivo. Isso implica o estímulo à autonomia do sujeito, desenvolvendo o sentimento de segurança em relação às suas próprias capacidades, interagindo de modo orgânico e integrado num trabalho de equipe e, portanto, sendo capaz de atuar em níveis de interlocução mais complexos e diferenciados.”

Assim, espera-se que aluno do Ensino Médio possua, ao concluir seus estudos, condições de contextualizar-se no mundo, articulando os saberes adquiridos de maneira abrangente e reflexiva. Para tanto, os professores devem estar atentos ao que o País espera como produto da educação oferecida a esses jovens e aqui reside a importância de os professores conhecerem, com a maior profundidade possível, as diversas abordagens sobre o ensino de Filosofia.

Sabemos que a educação reflete, historicamente, os anseios de cada sociedade. Assim, podemos ver a exigência moderna por indivíduos capazes de lidar com a diferença e sempre prontos aos desafios impostos pelo avanço da tecnologia, refletida nas diretrizes pedagógicas do país. Portanto, cabe ao professor conhecer tais diretrizes para que possa, com base nelas, exercer uma docência crítica dentro da sala de aula – seja trabalhando de acordo com o que se espera do processo de ensino e aprendizagem, seja realizando atalhos para uma compreensão menos utilitarista pelos alunos.

Por isso, aqui faço uma analogia entre o que propõem os PCNs e o modelo pedagógico de Edgar Morin, pensador brevemente abordado em nosso material de estudo.

Morin propõe uma educação para o desdobramento da efetivação do saber humano. Trata-se de um modelo pedagógico multifacetado, que trata do problema da complexidade como condição humana e fator fundamental para um novo modelo educativo. Morin trata deste homem, deste sujeito que necessita estar preparado para a complexidade social, como Homo complexus, ou seja, aquele percebido a partir de sua totalidade histórico/empírico/racional.

Essa analogia entre Morin e os PCNs é importante, pois os modelos educacionais passados (e, dependendo da leitura, atuais) previam a fragmentação do ensino de maneira utilitária, de forma a atender as necessidades imediatas de produção e consumo. Diferentemente desse tipo de fragmentação estéril e mecânica, Morin coaduna com os PCNs (e seus campos de estudo) quando propõe a religação dos saberes, quando formula o conceito de uma escola que não forme experts, simples especialistas. Assim como Morin propõe a resistência contra a unificação do múltiplo e a dissolução das subjetividades, e os PCNs prevêem, ao menos teoricamente, essa transdisciplinaridade dentro das escolas.

E aqui se encontram os paralelos traçados entre Morin e os PCNs: o papel da Filosofia dentro desse contexto de religação de saberes, de reestruturação dos modelos pedagógicos atualmente fragmentados em especialidades soltas, sem relação teórica ou prática entre si. Eis a tarefa do professor de filosofia!

Esse debate, tanto da educação complexa de Edgar Morin, quanto das diretrizes pedagógicas dos PCNs, auxiliam na formação do educador de filosofia, pois pode levá-lo a entender a importância de um conhecimento integral e interligado entre os saberes, sem, contudo, desfazer das especialidades necessárias ao indivíduo contemporâneo. Entender a heterogeneidade do pensamento e a pluralidade do conhecimento, permite aos professores uma formação mais abrangente, refletida em sala de aula como reconstrutora de conceitos, aplicando uma teoria que proponha a alteração do paradigma do distanciamento das disciplinas entre si. Este professor utilizará das ferramentas que lhe forem possíveis, para demonstrar aos alunos que não há hierarquia entre os campos dos saberes, sendo certo que todos devem ser convertidos, dentro de suas particularidades, para que os alunos pensem o todo, a complexidade da condição humana, produzindo um alcance multidimensional da filosofia e da educação.

Conhecer a política pedagógica estruturada nos PCNs, portanto, solidifica o conhecimento teórico da formação do professor, permitindo que ele reflita sobre a prática de tais conhecimentos em sala de aula. Se o PCN espera que o aluno seja capaz de desenvolver habilidades para o entendimento dos diversos eixos dos saberes, é importante que o professor também construa seu conhecimento a partir desse olhar multidimensional proposto pelos parâmetros curriculares e, em analogia teórica de tais parâmetros, com o conceito de educação complexa em Morin.

Sobre o ensino de filosofia, dispõe o PCN:

“A aprendizagem nesta área deve desenvolver competências e habilidades para que o aluno entenda a sociedade em que vive como uma construção humana, que se reconstrói constantemente ao longo de gerações, num processo contínuo e dotado de historicidade; para que compreenda o espaço ocupado pelo homem, enquanto espaço construído e consumido; para que compreenda os processos de sociabilidade humana em âmbito coletivo, definindo espaços públicos e refletindo-se no âmbito da constituição das individualidades; para que construa a si próprio como um agente social que intervém na sociedade; para que avalie o sentido dos processos sociais que orientam o constante fluxo social, bem como o sentido de sua intervenção nesse processo; para que avalie o impacto das tecnologias no desenvolvimento e na estruturação das sociedades; e para que se aproprie das tecnologias produzidas ou utilizadas pelos conhecimentos da área.”


Logo, podemos presumir que o professor de Filosofia seja papel preponderante para essa religação dos saberes, para a transversalidade do conhecimento, atendendo assim, às diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Assumindo este papel de construtor de um novo paradigma da educação, o professor pode aplicar tais conhecimentos nas diversas metodologias possíveis para o ensino de filosofia.

Com isso, o professor terá uma formação mais sólida a fim de trabalhar a complexidade da aprendizagem em sala de aula, através de uma metodologia que organize e promova conceitos, despertando as potencialidades e autonomia de seus alunos.

Por fim, acreditamos que seja possível o ensino da filosofia, sobretudo se levarmos em consideração a importância da filosofia para a transversalidade dos saberes (PCNs) e para a comunicação efetiva entre as disciplinas (Morin). A filosofia, quando aplicada de maneira contextualizada à realidade dos alunos pelo docente, poderá levá-los a problematizar questões próprias da filosofia, mas também de outras disciplinas e de suas vidas pessoais. Caberá ao professor, portanto, estar preparado para que os alunos leiam e interpretem de maneira satisfatória textos filosóficos e literários, de maneira crítica e autônoma; proporcionar um ambiente de aprendizado que promova a articulação entre os conhecimentos; contextualizar os conhecimentos filosóficos, levando os alunos a entenderem o indivíduo como um ser multifacetado (viés histórico, cultural, social etc.); capacitação para aelaboração de textos argumentativos e debates construtivos de idéias etc.

Ou seja, para que o professor desenvolva uma metodologia que proporcione tais habilidades aos seus alunos, é importante que ele conheça as diretrizes pedagógicas e as teorias sobre o ensino da filosofia. Com isso, o professor poderá transformar sua sala de aula em laboratórios de conceitos, e não apenas um depósito de alunos passivos diante de dados históricos sobre a vida dos filósofos, sem quaisquer conexão com a representação de mundo ao qual os alunos estão acostumados, mantendo o paradigma que distancia a filosofia das demais disciplinas e da vida em ato e potência – objetivo maior do processo filosófico.



FONTE DE PESQUISA CONSULTADA

ALVES, Luiz Carlos Ribeiro. PCNs e ensino de filosofia na escola pública: desafios e perspectivas. Disponível em: < http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/viewFile/8500/7223 >


BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf >

BRASIL. PCN: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental. Disponível em: <  >http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/introducao.pdf

DANELON, Márcio. Ensino de Filosofia e Currículo: Um Olhar Crítico aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em: < http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/7455 >

ESTRADA, Adrian Alvarez. Os fundamentos da teoria da complexidade em Edgar Morin. Disponível: < http://revistas.unipar.br/akropolis/article/viewFile/2812/2092 >

GÓMEZ, Margarita Victoria. A transversalidade como abertura máxima para a didática e a formação contemporâneas.Disponível em: < http://www.rieoei.org/deloslectores/2772gomez.pdf

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