A proposta
apresentada neste módulo é a de análise dos diferentes métodos de ensino de
Filosofia, sua identificação política estruturada nos PCN’s e sua relação com o
Ensino Médio e o Ensino Superior. Analise, com seus colegas de curso, como
essas diferentes abordagens podem auxiliar na formação do educador da
filosofia. Diante dos desafios que se apresentam para a realidade da escola, é
possível ensinar a Filosofia? Disponibilize, no Fórum 2, os comentários sobre
suas pesquisas.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) fazem parte das reformas educacionais, que a exemplo do que tem ocorrido
ao redor do mundo, também vem sendo realizadas, nas últimas décadas, no Brasil.
Os PCNs são os referenciais
instituídos pelo Ministério da Educação, como forma de subsidiar a formação e a
prática docente no país. Assim, os PCNs foram dispostos como ferramentas,
sobretudo aos educadores, para que os mesmos possam refletir e problematizar
sobre as questões mais importantes do ensino, tais como a revisão dos objetivos
pedagógicos, organização do espaço e do tempo no ambiente escolar, instruções
didáticas sobre o que leva os alunos a participarem das aulas, planejamento e
readequações para o trabalho em sala de aula etc.
No Ensino Fundamental, os PCNs
apontam para a estruturação das disciplinas por área de conhecimento (língua
portuguesa, matemática, história etc.), além de incluir temas transversais e de
pluralidade cultural, capturando o interesse do aluno e superando as
dificuldades mais comuns do Ensino Fundamental, como a evasão escolar e o
desinteresse dos alunos. Com base nisso, pretende-se a formação de cidadãos
mais críticos e capazes de mudar a realidade brasileira:
“A sociedade brasileira demanda uma
educação de qualidade, que garanta as aprendizagens essenciais para a formação
de cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar com
competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem e na qual
esperam ver atendidas suas necessidades individuais, sociais, políticas e
econômicas.”
Já os PCNs do Ensino Médio, onde a
Filosofia tornou-se disciplina obrigatória, o enfoque pedagógico é na
construção de um indivíduo pronto para as pluralidades do mundo contemporâneo,
sujeito bricolado, formado por diversos saberes que, juntos, possibilitem o
alcance das demandas modernas de trabalho e sociedade:
“Para tanto, é necessário que, no processo
de ensino e aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de metodologias
capazes de priorizar a construção de estratégias de verificação e comprovação de
hipóteses na construção do conhecimento, a construção de argumentação capaz de
controlar os resultados desse processo, o desenvolvimento do espírito crítico
capaz de favorecer a criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógicos
das explicações propostas. Além disso, é necessário ter em conta uma dinâmica
de ensino que favoreça não só o descobrimento das potencialidades do trabalho
individual, mas também, e sobretudo, do trabalho coletivo. Isso implica o
estímulo à autonomia do sujeito, desenvolvendo o sentimento de segurança em
relação às suas próprias capacidades, interagindo de modo orgânico e integrado
num trabalho de equipe e, portanto, sendo capaz de atuar em níveis de
interlocução mais complexos e diferenciados.”
Assim, espera-se que aluno do Ensino
Médio possua, ao concluir seus estudos, condições de contextualizar-se no
mundo, articulando os saberes adquiridos de maneira abrangente e reflexiva.
Para tanto, os professores devem estar atentos ao que o País espera como
produto da educação oferecida a esses jovens e aqui reside a importância de os
professores conhecerem, com a maior profundidade possível, as diversas
abordagens sobre o ensino de Filosofia.
Sabemos que a educação reflete,
historicamente, os anseios de cada sociedade. Assim, podemos ver a exigência
moderna por indivíduos capazes de lidar com a diferença e sempre prontos aos
desafios impostos pelo avanço da tecnologia, refletida nas diretrizes
pedagógicas do país. Portanto, cabe ao professor conhecer tais diretrizes para
que possa, com base nelas, exercer uma docência crítica dentro da sala de aula
– seja trabalhando de acordo com o que se espera do processo de ensino e
aprendizagem, seja realizando atalhos para uma compreensão menos utilitarista
pelos alunos.
Por isso, aqui faço uma analogia
entre o que propõem os PCNs e o modelo pedagógico de Edgar Morin, pensador
brevemente abordado em nosso material de estudo.
Morin propõe uma educação para o
desdobramento da efetivação do saber humano. Trata-se de um modelo pedagógico
multifacetado, que trata do problema da complexidade como condição humana e
fator fundamental para um novo modelo educativo. Morin trata deste homem, deste
sujeito que necessita estar preparado para a complexidade social, como Homo
complexus, ou seja, aquele percebido a partir de sua totalidade
histórico/empírico/racional.
Essa analogia entre Morin e os PCNs
é importante, pois os modelos educacionais passados (e, dependendo da leitura,
atuais) previam a fragmentação do ensino de maneira utilitária, de forma a
atender as necessidades imediatas de produção e consumo. Diferentemente desse
tipo de fragmentação estéril e mecânica, Morin coaduna com os PCNs (e seus
campos de estudo) quando propõe a religação dos saberes, quando formula o
conceito de uma escola que não forme experts, simples especialistas. Assim como
Morin propõe a resistência contra a unificação do múltiplo e a dissolução das
subjetividades, e os PCNs prevêem, ao menos teoricamente, essa
transdisciplinaridade dentro das escolas.
E aqui se encontram os paralelos
traçados entre Morin e os PCNs: o papel da Filosofia dentro desse contexto de
religação de saberes, de reestruturação dos modelos pedagógicos atualmente
fragmentados em especialidades soltas, sem relação teórica ou prática entre si.
Eis a tarefa do professor de filosofia!
Esse debate, tanto da educação complexa
de Edgar Morin, quanto das diretrizes pedagógicas dos PCNs, auxiliam na
formação do educador de filosofia, pois pode levá-lo a entender a importância
de um conhecimento integral e interligado entre os saberes, sem, contudo,
desfazer das especialidades necessárias ao indivíduo contemporâneo. Entender a
heterogeneidade do pensamento e a pluralidade do conhecimento, permite aos
professores uma formação mais abrangente, refletida em sala de aula como
reconstrutora de conceitos, aplicando uma teoria que proponha a alteração do
paradigma do distanciamento das disciplinas entre si. Este professor utilizará
das ferramentas que lhe forem possíveis, para demonstrar aos alunos que não há
hierarquia entre os campos dos saberes, sendo certo que todos devem ser convertidos,
dentro de suas particularidades, para que os alunos pensem o todo, a
complexidade da condição humana, produzindo um alcance multidimensional da
filosofia e da educação.
Conhecer a política pedagógica
estruturada nos PCNs, portanto, solidifica o conhecimento teórico da formação
do professor, permitindo que ele reflita sobre a prática de tais conhecimentos
em sala de aula. Se o PCN espera que o aluno seja capaz de desenvolver
habilidades para o entendimento dos diversos eixos dos saberes, é importante
que o professor também construa seu conhecimento a partir desse olhar
multidimensional proposto pelos parâmetros curriculares e, em analogia teórica de
tais parâmetros, com o conceito de educação complexa em Morin.
Sobre o ensino de filosofia, dispõe
o PCN:
“A aprendizagem nesta área deve desenvolver
competências e habilidades para que o aluno entenda a sociedade em que vive
como uma construção humana, que se reconstrói constantemente ao longo de
gerações, num processo contínuo e dotado de historicidade; para que compreenda
o espaço ocupado pelo homem, enquanto espaço construído e consumido; para que
compreenda os processos de sociabilidade humana em âmbito coletivo, definindo espaços
públicos e refletindo-se no âmbito da constituição das individualidades; para
que construa a si próprio como um agente social que intervém na sociedade; para
que avalie o sentido dos processos sociais que orientam o constante fluxo
social, bem como o sentido de sua intervenção nesse processo; para que avalie o
impacto das tecnologias no desenvolvimento e na estruturação das sociedades; e
para que se aproprie das tecnologias produzidas ou utilizadas pelos
conhecimentos da área.”
Logo,
podemos presumir que o professor de Filosofia seja papel preponderante para
essa religação dos saberes, para a transversalidade do conhecimento, atendendo
assim, às diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Assumindo este
papel de construtor de um novo paradigma da educação, o professor pode aplicar
tais conhecimentos nas diversas metodologias possíveis para o ensino de
filosofia.
Com
isso, o professor terá uma formação mais sólida a fim de trabalhar a
complexidade da aprendizagem em sala de aula, através de uma metodologia que
organize e promova conceitos, despertando as potencialidades e autonomia de
seus alunos.
Por
fim, acreditamos que seja possível o ensino da filosofia, sobretudo se levarmos
em consideração a importância da filosofia para a transversalidade dos saberes
(PCNs) e para a comunicação efetiva entre as disciplinas (Morin). A filosofia,
quando aplicada de maneira contextualizada à realidade dos alunos pelo docente,
poderá levá-los a problematizar questões próprias da filosofia, mas também de
outras disciplinas e de suas vidas pessoais. Caberá ao professor, portanto,
estar preparado para que os alunos leiam e interpretem de maneira satisfatória
textos filosóficos e literários, de maneira crítica e autônoma; proporcionar um
ambiente de aprendizado que promova a articulação entre os conhecimentos;
contextualizar os conhecimentos filosóficos, levando os alunos a entenderem o
indivíduo como um ser multifacetado (viés histórico, cultural, social etc.);
capacitação para aelaboração de textos argumentativos e debates construtivos de
idéias etc.
Ou
seja, para que o professor desenvolva uma metodologia que proporcione tais
habilidades aos seus alunos, é importante que ele conheça as diretrizes
pedagógicas e as teorias sobre o ensino da filosofia. Com isso, o professor
poderá transformar sua sala de aula em laboratórios de conceitos, e não apenas
um depósito de alunos passivos diante de dados históricos sobre a vida dos
filósofos, sem quaisquer conexão com a representação de mundo ao qual os alunos
estão acostumados, mantendo o paradigma que distancia a filosofia das demais
disciplinas e da vida em ato e potência – objetivo maior do processo
filosófico.
FONTE DE
PESQUISA CONSULTADA
ALVES, Luiz Carlos Ribeiro. PCNs e ensino de filosofia na
escola pública: desafios e perspectivas. Disponível em: < http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/viewFile/8500/7223
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ALVES. Antônio José Lopes. Os PCN
e o Ensino de Filosofia. Disponível em: < http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&ved=0CGsQFjAC&url=http%3A%2F%2Fwww.seer.ufu.br%2Findex.php%2FEducacaoFilosofia%2Farticle%2Fdownload%2F610%2F555&ei=SROkT67_LMiztwfY1e2ZDQ&usg=AFQjCNHntsnI_AJeGP4DwUeZN5g7Ze-y-A >
BRASIL.
Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf >
BRASIL. PCN: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental.
Disponível em: < >http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/introducao.pdf
DANELON, Márcio. Ensino de Filosofia e Currículo: Um Olhar
Crítico aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em: < http://www.seer.ufu.br/index.php/che/article/view/7455
>
ESTRADA, Adrian Alvarez. Os fundamentos da teoria da complexidade
em Edgar Morin. Disponível: < http://revistas.unipar.br/akropolis/article/viewFile/2812/2092
>
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