quinta-feira, 26 de abril de 2012

Elaboração de Plano de Aula - Fundamentos da Educação Inclusiva


Introdução


A elaboração deste Plano de Aula configurou-se como um desafio que foi ficando cada vez maior, embora também mais animador, à medida que íamos estudando e sendo inteiramente tomados pelo assunto. Não bastasse a complexidade de ter que se elaborar um Plano de Aula na condição de alunos que nunca lecionaram, somaram-se a este desafio: a necessidade de optar por uma disciplina do Ensino Fundamental (onde não é prevista a disciplina de Filosofia); o uso de linguagem específica à faixa etária que escolhemos e, sobretudo, a adaptação do conteúdo com o uso de novas estratégias, para a inclusão de alunos portadores de necessidades especiais.
Trata-se, portanto, de um exercício teórico. A presença de alunos com deficiência em sala de aula comum é uma realidade recente, onde nenhum de nós teve a oportunidade de, no ciclo regular de ensino, interagir com alunos portadores de alguma necessidade educacional especial.
Antes de formularmos, de fato, nosso Plano de Aula, determinamos algumas diretrizes, como a escola em que lecionaríamos, os recursos disponíveis e a nossa capacidade em lidar com as diferenças em sala de aula.
Assim, uma vez determinado que as aulas seriam para o quinto ano do Ensino Fundamental de uma escola pública, o próximo  primeiro passo foi escolher a disciplina de Matemática para aplicação. Em seguida, optamos pela deficiência auditiva para embasarmos nossos estudos sobre educação inclusiva.





Plano de Aula

  1. Dados de Identificação
v  Escola: E.E.P.S.G Protágoras de Abdera.
v  Disciplina: Matemática.
v  Conteúdo: Conceitos de Tabuada.
v  Ano: 5º ano do Ensino Fundamental.
v  Professores: Natachy, Rogério e Vanderley.

  1. Justificativa

Essencial para a vida cotidiana em sociedade, a compreensão da tabuada garantirá autonomia aos alunos, que utilizarão os conceitos destas operações matemáticas durante toda a vida. A partir da demonstração da importância da tabuada no dia a dia dos alunos (compras, cálculo de troco, estimativa de peso), demonstraremos que todas as atividades corriqueiras exigem a compreensão da multiplicação dos números, onde a proposta é desmistificar o ensino da tabuada como simples repetição mecânica de resultados.

  1. Habilidades desenvolvidas

A partir do estudo da tabuada, os alunos serão compelidos a desenvolverem muitas habilidades, principalmente:
·         Raciocínio lógico;
·         Concentração;
·         Comparação entre o conceito de tabuada e a sua aplicação cotidiana;
·         Interação entre os colegas para obtenção dos resultados.

  1. Objetivos
·         Explicar o conceito de tabuada;
·         Como o conceito é mais importante que a decoreba dos números;
·         Experimentação cotidiana.

  1. Metodologia
·         Aula expositiva;
·         Exibição de recursos visuais (slides e vídeos);
·         Dinâmica e Jogos;
·         Avaliação.

  1. Tempo estimado
·         Quatro aulas (200 minutos).

  1. Faixa etária
·         Alunos do quinto ano do Ensino Fundamental – idades entre 10 e 13 anos.

  1. Tempo para realização da atividade
·         Uma hora para cada dia de aula.

  1. Local para atividade
·         Sala Comum;
·         Sala de Vídeo.

  1. Recursos utilizados
·         Lousa e giz;
·         Dados;
·         Slides com imagens e vídeos;
·         Computador e retroprojetor;

  1. Avaliação
Os alunos serão avaliados por nós na última aula, onde poderão escolher a maneira pela qual serão avaliados: individualmente ou em grupos de até cinco alunos. Cada aluno ou grupo poderá escolher entre as seguintes ferramentas de avaliação:

·         Resolução de exercícios;
·         Redação sobre o tema;
·         Teatro;
·         Mímica e música
·         Desenho e pintura.


Primeira Aula – O que sabemos sobre a tabuada?
Duração: 01 hora

Procedimento: Vamos perguntar aos alunos se eles sabem o que é tabuada. Suas respostas serão anotadas na lousa e, posteriormente, quando cada resposta for sendo discutida, os principais conceitos serão demarcados com giz colorido. Em seguida, abordaremos os aspectos históricos da tabuada, sua origem, importância e significado para a sociedade. Após discussão e aprofundamento no tema com os alunos, pediremos para que eles nos dêem exemplos de como a tabuada pode ser observada e exercitada no dia a dia deles. Exemplo de como associaremos a tabuada à rotina dos alunos:
  • Marcelo foi até a cantina da escola e pediu dois refrigerantes. Cada refrigerante custa R$2,00. Como calcular o valor da compra utilizando a tabuada do dois?
  • Análise de outros exemplos fornecidos pelos alunos.
·         Análise da frase do Governador Geraldo Alckmin, realizada em entrevista, sobre a “decoreba” da tabuada. Fazê-los pensar se é importante ter decorados os resultados de uma tabela ou aprender os conceitos que regem os fatores de multiplicação: "Estou insistindo muito na volta de procedimentos tradicionais de ensino, como memorizar a tabuada, que é uma coisa que saiu de moda. Não vejo outra maneira de saber quanto é 9 vezes 7 senão memorizando que é 63. Os jornalistas aqui são jovenzinhos e estudaram pelos métodos construtivistas. A pessoa entende como chega lá, mas não sabe de memória. Defendo que se memorize a tabuada. É memorex”. (OESP 8 de março de 2007)*

Flexibilização do conteúdo: Tomaremos cuidado para não falarmos enquanto estivermos de costas para a sala, de forma que o aluno com deficiência auditiva possa acompanhar pela leitura labial tudo o que dissermos. Daremos um tempo para que todos copiem os conceitos dispostos na lousa e forneceremos um resumo escrito e com algumas imagens, dos conceitos básicos sobre tabuada. Por não haver intérprete de Libras em sala de aula e por não sermos fluentes nessa língua, todo o material será enviado ao professor responsável pela educação especial (em outro período de aula) para que ele aprofunde o assunto com o aluno.



Segunda Aula – Ilustrando a tabuada
Duração: 01 hora

Procedimento: Realizaremos a exposição de slides com imagens e vídeos legendados, que auxiliem a todos os alunos na compreensão e conceitualização dos fatores algébricos de multiplicação. Exemplos de imagens e vídeos que demonstraremos aos alunos:
  • Tabuada cantada: Vídeo legendado que canta histórias infantis e associam a memorização da tabuada ao ritmo das histórias, facilitando o processo de aprendizado: http://www.youtube.com/watch?v=A8t3DJvXcOE&feature=related;
  • Utilização de imagens e conceitos descritos em slides, tais como:
  

                                     

Flexibilização do conteúdo: A utilização de imagens para o ensino do conteúdo é fator determinante para o sucesso da aprendizagem do aluno surdo. Contudo, acreditamos que esta aula aplicada em imagens e vídeos será útil também para todos os demais alunos, onde esperamos promover a integração entre eles através da linguagem visual, comum a todos. Todo o material será encaminhado ao professores especializados para reforço ao aluno surdo.

Terceira Aula – Interagindo com a tabuada

Duração: 01 hora

Procedimento: Nesta aula, os alunos formarão grupos de até cinco alunos para a realização de dinâmicas envolvendo os conceitos de tabuada. Para isso, vamos propor o desafio dos dados, que contará com o nosso acompanhamento. Diante de cada lance, analisaremos como os alunos devem formular o conceito de multiplicação da tabuada, independentemente do resultado obtido, onde o objetivo será fazê-los compreender como cada resultado poderia ser enunciado. Sobre a dinâmica:
  • Cada aluno lançará dois dados sobre a mesa e anotará em seus cadernos os resultados obtidos. Em seguida, cada grupo deverá discutir sobre como conceituar a multiplicação de todos os resultados. Cada aluno repetirá o mesmo procedimento e, ao final, ganhará o grupo que melhor conceituar suas estratégias para elaboração de resultados. Exemplo:

Joãozinho lança dois dados, obtendo os resultados: 2 e 3. O aluno Pedro repete o mesmo procedimento e obtém os resultados 5 e 6. Todos os resultados serão anotados no caderno, da seguinte maneira:
João: 2X3
Pedro: 5X6

Quando todos os resultados estiverem descritos nos cadernos dos alunos do grupo, todos deverão discutir sobre como chegar a um resultado. Exemplos:
“Dois vezes três” é o dois repetido quantas vezes?
“O três repetido duas vezes” daria o mesmo resultado que o “dois repetido três vezes”?

Flexibilização do conteúdo: O grupo onde o aluno surdo estiver inserido receberá nossa atenção mais próxima, o que não interferirá no aprendizado de todo o grupo, uma vez que todos poderão ser beneficiados com explicações mais pormenorizadas. Os alunos receberão as regras do jogo proposto por escrito, de forma a fazer com que todos assimilem o que deve ser feito. As instruções sobre o jogo de dados também será fornecida ao professor especializado, para que o aluno absorva com mais qualidade os conceitos propostos.

Quarta Aula – Avaliação

Duração: 01 hora

Procedimento: Nesta aula, os alunos serão avaliados individualmente, ainda que possam formar grupos de até cinco alunos. O objetivo será avaliar a evolução do conhecimento sobre os conceitos de tabuada, levando em consideração todo o processo de ensino-aprendizagem, e não apenas os seus resultados. Como o que nos interessa é o processo pelo qual os alunos percorreram, eles poderão escolher a forma como serão avaliados, adaptando o conteúdo à linguagem com a qual têm mais familiaridade: resolução de cinco exercícios lógicos sobre o tema; redação; teatro; mímica e/ou música e desenho e/ou pintura. Os alunos terão sido informados sobre essas opções na aula anterior, motivo pelo qual já deverão ter preparado o material da apresentação, caso assim prefiram.
Flexibilização do conteúdo: Permitir que os alunos escolham o método pelo qual serão avaliados, faz com que tenham a liberdade de expressar o que aprenderam, exercitando a autonomia que deverão possuir durante toda a vida escolar. O mesmo valerá ao aluno surdo, que não precisará ser submetido a uma avaliação homogênea, tendo a possibilidade de expressar-se pelo método que considerar mais adequado para as suas potencialidades. Além disso, manteremos conosco a sua ficha de proposta educativa, que servirá para a troca de informações entre nós, professores da sala comum que não possuímos fluência em Libras, com o professor especializado do período da tarde.



Ficha de Proposta Educativa Para Alunos de Inclusão*

Identificação: do aluno e os contatos da família
Nome: José Carlos Filho
Data de Nascimento:   09/05/2000
Endereço:   Rua Raul Seixas, 13.                      Telefone: 2222-2222
Filiação: Luiza Basílio e José Carlos Basílio.

Dados relevantes sobre a família e histórico pessoal do aluno
Família participativa no processo de ensino-aprendizagem. O aluno possui muito interesse por matemática, possui boa leitura labial e interage bem com os colegas da sala. Apresenta dificuldade média para se comunicar, mas já desenvolveu mecanismos próprios de interação com pessoas que não são fluentes em Libras.

Dados sobre a escolarização
O aluno estuda no mesmo colégio desde que iniciou sua vida escolar.

Atendimentos fora da escola
O aluno freqüenta as aulas de educação especial nos períodos da tarde neste colégio e possui acompanhamento de fonoaudióloga particular duas vezes na semana.

Necessidades especiais identificadas
Identificamos que o aluno possui boa capacidade de concentração, embora muitas vezes fique disperso quando tenta acompanhar o que os colegas da sala estão fazendo (leitura labial). Compreende com facilidade os conteúdos apresentados, registra suas anotações de forma organizada no caderno e apresenta interesse em levar os materiais disponibilizados em sala de aula para o seu professor de educação especializada.
O aluno não apresenta dificuldades cognitivas muito superiores aos demais alunos da mesma faixa etária, ficando claro que a maior barreira para o seu aprendizado seja o nosso desconhecimento sobre Libras e, conseqüentemente, a falta de um professor tradutor na sala.
Leitura e Escrita
O aluno demonstra compreender os conteúdos fornecidos para leitura. Apresenta razoável capacidade de escrita, com erros comuns aos que são alfabetizados por Libras (com suas especificidades na construção de frases e elaboração de argumentos). Fora isso, apresenta desenvolvimento similar aos colegas de classe.

Objetivos gerais
O aluno tem condições de ser plenamente alfabetizado, em nível similar ao dos demais colegas. Pretendemos potencializar suas capacidades de raciocínio lógico, empregando exercícios matemáticos desta natureza, uma vez que o aluno demonstra inclinação por essa área.

Psicomotricidade
Similar aos dos demais alunos, precisando melhorar sua caligrafia.

Auto-estima
Boa auto-estima. Interage por métodos próprios com os demais alunos (mímicas, bilhetes escritos etc.) com os quais divide a sala de aula desde que ingressou na vida escolar.

Atenção e Concentração
Nas aulas de matemática o aluno apresenta boa concentração, ficando um pouco mais disperso quando os demais colegas estão agitados, pois acaba se virando muitas vezes para realizar a leitura labial.

Responsáveis pela construção do plano
Professor referência: Natachy, Rogério e Vanderley - Da turma regular.
Professor especialista: Ana Rita da Cruz Capelozi - Do Atend. Educ.  Especializado.



Conclusão


Para quaisquer que sejam as disciplinas a serem oferecidas aos alunos com necessidades especiais de educação, faz-se necessário o oferecimento de recursos por parte do Estado, a reorganização da estrutura física e pedagógica da escola, a formação primária e continuada de professores, bem como a participação da família em todos esses processos de ensino-aprendizagem.
Para a realização deste Plano de Aula, contamos com as informações das apostilas da disciplina e com as leituras realizadas durante a pesquisa. Contudo, nenhum de nós vivenciou a interação com alunos com necessidades educacionais em sala de aula, haja vista que tal quebra de paradigma é recente e somente agora vem ganhando projeção social. Por isso, tivemos que elaborar um Plano de Aula sem qualquer intimidade com o assunto, o que nos fez ficar restritos à teoria da educação inclusiva.
Apesar disso, o exercício proposto nos fez enxergar que ainda que não haja os recursos necessários (um professor fluente em Libras dentro da sala de aula, por exemplo) algumas medidas podem ser tomadas pelo professor para que todos sejam capazes de apreender os conteúdos, independentemente de ter ou não uma necessidade educacional especial: falar mais pausadamente de frente para toda a sala, disponibilizar recursos que atendam às especificidades do aluno (no caso proposto, materiais visuais), procurar realizar atividades em grupo para oferecer a possibilidade de interação entre os alunos, diálogo com a família para maior conhecimento sobre a realidade do aluno, interação constante entre o professor da sala comum e o de educação especializada, avaliações de desempenho individualizadas etc.
Desta maneira, o aluno não será apenas integrado na sala de aula, mas terá também a possibilidade de ser incluído socialmente, tendo garantidos os seus direitos de acesso e permanência na escola, construindo uma sociedade mais equilibrada, com sujeitos pensantes e aptos a exercerem suas potencialidades. Afinal, é na escola que tais perspectivas podem e devem ser estimuladas.

Considerações Finais

Apesar da bagagem teórica aprendida nesta disciplina, especificamente com a elaboração deste Plano de Aula, sentimos falta de uma vivência prática, onde os conceitos de inclusão pudessem ser analisados no cotidiano das escolas públicas. Por este motivo, sugerimos que a disciplina seja adaptada pelo Claretiano, de forma a sugerir aos próximos alunos um contato mais próximo da realidade, a partir da pesquisa em sala de aula.
Um exemplo dessa sugestão, seria lecionarmos, de fato, o Plano de Aula que elaboramos e, com base nele, redigirmos um relatório sobre os resultados obtidos. Pensamos que somente assim poderíamos ter um esquema mental formado sobre o assunto, atrelando teoria e prática, pilares indissociáveis de um aprendizado concreto e de qualidade.

Bibliografia


MINETTO, Maria de Fátima. Currículo na Educação Inclusiva: Entendendo esse Desafio. Paraná: Editora IBPEX, 2008. 138 pág.

E-Referências
Agência Européia para o Desenvolvimento da Educação Especial. Educação Inclusiva e Práticas de Sala de Aula nos 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico. Disponível em: http://www.europeanagency.org/publications/ereports/inclusive-education-and-classroom-practice-in-secondary-education/iecp_secondary_pt.pdf . Acesso em 14 mar 2012.
Escola Técnica de Formação Gerencial. Banco de Aulas e Projetos. Disponível em: http://www.etfg.com.br/bap/detalharProjetoAction.do?actionType=iniciar&idBap=173&origem=telaPrincipalEducador. Acesso em 19 mar 2012.

Nova Escola. Formas Criativas para Estimular a Mente de Alunos com Deficiência. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/formas-criativas-estimular-mente-deficientes-intelectuais-476406.shtml. Acesso em 11 mar 2012.

Nova Escola. Modelo de Proposta Educativa Para Alunos de Inclusão. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/pdf/modelo-ficha-inclusao.pdf. Acesso em 18 mar 2012.

Nova Escola. Recebi um Aluno Surdo. E Agora? Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/recebi-aluno-surdo-agora-inclusao-602191.shtml. Acesso em 11 mar 2012.

Nova Escola. Toda Novidade é Bem Vinda. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/toda-novidade-bem-vinda-495945.shtml. Acesso em 11 mar 2012.

Matemática Hoje. Sobre o Ensino da Tabuada na Escola Primária. Disponível em: http://www.matematicahoje.com.br/telas/autor/artigos/artigos_publicados.asp?aux=tabuada. Acesso em 19 mar 2012.

Projeto Escola Viva. Deficiência no Contexto Escolar. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/defcontexto.pdf. Acesso em 11 mar 2012. 

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