sexta-feira, 6 de maio de 2011

História Humana e contra propostas por Rogério de Sousa

Vou escrever livremente, sem referenciar bibliografia. Penso que assim poderei construir melhor a postagem, a qual denominarei de “contra prposta”.

Ao longo da saga humana estamos experenciando o que Rousseau chamou de contrato social. Neste contrato existe a dialética da proposta e da contra-prosposta. E isto demonstrarei nas linhas que se seguem.

Começaremos pelo homem mítico a quem chamo de Adão. Este filho de Deus recebeu do Criador a proposta da vida inocente, longe dos labirintos da culpa. Mas o demônio de Sócrates tentou o Adão, e este aceitou a contra proposta do diabo.        E tornou Adão o primeiro pecador dentre todos seus descendentes. Foi morar nas cavernas e tornou-se chefe de um clã tribal, de homens pré-históricos.

Surgiu ao longo dos tempos a proposta da civilização em contra proposta ao barbarismo, como a proposta do cultivo à contra proposta do nomadismo. O homem desenvolveu a tecnologia dos utilitários domésticos, artísticos, bélicos e religiosos. Conceberam a vida em comunidade e a regularam por leis. Mas o homem é ser pensante, dinâmico e processual. Não conformou-se nunca com os moldes do primitivismo. Escreveu suas leis e modificou sua estrutura social, seja por força das armas seja por evolução dos tempos. Quem sempre se mostrou onipresente no processo existencial? A contra proposta!

Par os que viviam no deserto veio a contra proposta do oásis. Para quem vivia nas cidades estado veio a contra proposta da migração. Os que eram governados pelo sacerdotalismo experimentaram a emancipação pela monarquia. Ao conjunto de reinos somou-se a pretensão dos impérios. E homem viu-se jogado à roleta da sorte, sendo de um lado o escravizado e do outro o exator, de um lado a mulher do caminho e do outro a filha do rei, de um lado nobre caçador e do outro presa indefesa.

As civilizações que mais se adiantaram nada propuseram para os miseráveis, os depauperados, os marginalizados, os pobres, a não ser que continuassem conformes com a natureza. No entanto, as luzes do profetismo e da reforma brilharam em diversas sociedades. As luzes de Moisés, de Buda, de Confúcio e tantos outros homens se espargiram sobre seus semelhantes, não somente sobre os bem nascidos, mas sobre todos! Nos escritos destes homens o bem e o bom não são privilégios dos melhores, mas proposta para todos. Com eles o ideal da democratização das virtudes se iniciou. Com eles aprenderam os ocidentais.

Então, os ocidentais propuseram a filosofia ou a sofística, o platonismo ou o aristetolismo, o cinismo ou o ceticismo, o epicurismo, o estoicismo. Propuseram a amor ao saber e a relativização do saber, o mundo das idéias ou o mundo tangível, a indiferença ou a dúvida, a busca do prazer ou a vida sem paixão. Em contra proposta ao hedonismo, surgiu o estoicismo que toma dos cínicos o conceito da filosofia como exercício e estudo da virtude.

Zeno de Cítio, Cleanto de Asos, Crisipo de Soles, Sêneca, Marco Aurélio, Epitecto são nomes dos mais famosos estóicos. Aceitavam um materialismo dinâmico, mas o princípio ativo era identificado com o fogo de Heráclito e com o éter de Aristóteles, que invade todas as coisas com sua tensão e seu calor, que é, como Heráclito pensava, o Logos, a razão universal, a razão de todas as coisas. Por isso são também panteístas. Aceitavam uma inexorável necessidade (fatalidade) e, conseqüentemente, uma lei de finalidade (Providência), porque tudo é orientado racionalmente. Assim Deus é a ordem universal, fatal e providencial.
O mal é necessário para que exista o bem: a injustiça, necessária para que exista justiça. Não há verdade sem a falsidade. A liberdade individual é um momento da fatalidade universal. O fim ideal do indivíduo é a criação e a conservação de uma harmonia de vida, que é conformidade com sua natureza interior, enquanto é conformidade com a natureza universal. O domínio da razão, que é o Logos universal, deve impedir as perturbações dos impulsos irracionais, as paixões. É a virtude o ideal do sábio, e ela consiste na extirpação das paixões (apatia) e na imperturbabilidade (ataraxia).

Todas as paixões são vícios porque são erros e enfermidades da alma. Assim repelem os impulsos comumente condenados, como a ira, o temor, a avidez, a cupidez, etc, como também os julgados louváveis, como a piedade, as aflições por calamidade pública, a compaixão, etc.
Não se pode dizer que os estóicos fossem egoístas, no mau sentido, por se desinteressarem com as calamidades públicas. Mas a sua visão do mundo, leva-os a compreender que um mal particular podia ser um bem no conjunto universal. Além disso, pregavam eles a indiferença, para com o sofrimento próprio, uma atitude tal, que o termo estoicismo alcançou, no vocabulário popular, um sentido de serena superioridade ante o sofrimento. O cristianismo, que sobrevém depois, não é estóico, pois a caridade passa a ser a grande virtude. No entanto, com Zeno, no seu cosmopolitismo, que prega um vínculo universal entre os homens, encontramos um ponto de aproximação com o cristianismo.

Para contrapor-se a todas as outras contra propostas surgiu o neoplatonismo. O neoplatonismo empreende uma grande especulação final religiosa. Tudo vem de Deus por graus e tudo volve, por graus, a Êle. O princípio é Deus, o incognoscível e inefável para os homens, e acima de todas as determinações que possamos conceber do ser, da essência, do pensamento, da vontade.

Podemos, de Deus, dizer o que não é, nunca o que é. Para falarmos de Deus, temos que usar nossos termos inferiores e compará-lo ao inferior, chamando-O o Um, Bem, Ato Puro, etc. Com isso não expressamos a Deus, mas a necessidade e a aspiração das coisas inferiores, que só podem subsistir pelo apoio da Unidade, do Bem, do Ato Puro. Deus coloca-se, assim, além de qualquer determinação.

É Deus a fonte de todos os seres. Embora não tenha necessidade de movimento e câmbio, emana o descender de uma série de outros seres numa procissão descendente. A emanação deriva desde a essência de Deus, enquanto êle permanece, em si, no ato de sua essência. Assim, o fogo que permanece, em si, fogo, emana o calor, ou o sol, que, permanecendo sol, em si, emana sua luz em todas as direções. Todas as coisas procedem de Deus, e sem Êle não se manteriam, mas Deus transcende a todas as coisas. É progressiva a descida dos seres. Assim como a luz vai se debilitando e obscurecendo, quanto mais se afasta de sua fonte, assim, afastando-se da fonte da Unidade e da Perfeição os seres vão aumentando em multiplicidade.

Três graus tem esse descer do Um: 1) Intelecto; 2) Alma universal; 3) Mundo corpóreo.
Os dois primeiros formam com o Um a Trindade divina das substâncias ou hipóstases, o terceiro é o último cios entes, fora do mundo inteligível e em contato com a matéria, que não é corporeidade, mas absoluto não-ser, e, por isso, mal absoluto.
     

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