sexta-feira, 6 de maio de 2011

Onze parágrafos sem nenhum segredo por Rogério de Sousa

Natachy

1º.    Você foi vencida! Ou a retórica do William citando seu nome, ou a paixão incontida pelo tema, ou a necessidade existencial de se fazer ouvir te convenceu a sair da toca. Agora não mais volta.

2º.    Entre pares não há eufemismos. William e eu somos bons amigos e bons cristãos. Dispensamos as sedas no trato dialético e vamos direto às farpas. Cedemos terreno para dar a impressão de “bandeira branca”, mas tomamos de assalto o desavisado que nos combate.

3º.    Seu posicionamento ateu ainda está no senso comum. Não subiu as escadarias da Alta Filosofia e por isso, somente ecoa no vazio. Onde estão suas armas? Que veio fazer no terreno de batalha? Cuidado, o ambiente da Antropologia Teológica é chão arenoso, você pode não se firmar para o combate.

4º.    Não haverá agressões entre os pares! Ninguém vai sair na mão aqui! O William vai aceder ao Evangelho, e já o fez! Quando em humildade franciscana ele pediu perdão por seus pecados filosofais eu o reconheci cristão, não só na forma, mas na atitude. E assim, cristãos são todos os que reproduzem em suas vidas as virtudes do Evangelho, ainda que não professem.

5º.  Concorda com o William em tudo? Leia o que respondi ao Giuliano: “Concorda plenamente? Concorda que nós teístas somos filósofos incoerentes? Concorda que nós teístas caímos doentes tentando conceber realidades irreais? Concorda que nós teístas persistimos doentiamente em perpetuar as divindades negando a razão? Concorda que nós teístas somos pseudo-intectuais, afirmando algo sem explicações racionais?”

Agora leia o que o Wiliam respondeu ao Giuliano: “Prezado colega,
Presumo que o colega tenha o mesmo ímpeto ao questionamento que eu sobre aquilo que aos nossos olhos se mostram em forma de incoerências das mais absurdas na vida cotidiana do homem individualmente e coletivamente e de igual modo, imediatamente nos revoltam. Mas vamos com calma. O radicalismo não combina com a personalidade de um homem pensador. É necessário uma análise mais abrangente para conclusões aproximadas sobre a temática em questão já que tratamos de vidas humanas em todo o seu aspecto dimensional, estrutural, histórico, psicológico, emotivo etc.” 

6º.    Nós dois estamos na prática da filosofia, prova disto é a tônica dialética que há entre o William e eu, com o a presença brilhante do Vanderley e de outros debatedores. É filosofia de ponta, com tese e antítese, como propõe Hegel. Quanto à síntese...

7º.    Quando escolhi cursar filosofia sabia que encontraria você, o William, o Vanderley, o Giuliano, a Nancy e todos os demais amantes do saber. Quisesse ficar entre os iguais, teria optado por teologia somente. Não! É com o diferente que se aprende! É com seu ateísmo, com o agnosticismo do William, com o cristianismo do Vanderley, o cientificismo do Giuliano, o imanentismo da Nancy e o silêncio dos inocentes.

8º.    Sua crítica não é indireta. Aceite isso! É um posicionamento, uma postura, um lado. Pois bem! Seja bem vinda ao terreno da antropologia e da Teologia. Agora deixarei de lado as sandálias e a roupa rústica (me perdoe São Francisco), e me inclinarei a você em estilo nietzchiano:

Se eu sou profeta, cheio deste espírito profético, que caminha por uma alta crista entre dois mares, que caminha como uma densa nuvem entre o passado e o futuro, inimiga de todos os lugares baixos, sufocantes, de todos os seres extenuados que não podem nem viver, nuvem sempre disposta a soltar, de seu obscuro seio, o relâmpago libertador, o rio que diz sim, que ri sim, pronto para exaltações proféticas; feliz de quem traz em seu seio tais raios, pois, na verdade, permanece sempre suspenso como uma pesada tormenta no flanco da montanha, aquele que é destinado a acender a tocha do porvir
(Os Sete Selos ou A Canção do Sim e do Amém)

9º.    Não há achismos ou perca de tempo na dialética. Somente aos que amam a sabedoria cabe o direito de contradizer e afirmar. Quisesse o tutor que meramente postássemos bandeirinhas e comentários polidos já teria se pronunciado. Não o fez, por amor da dialética, nos deixou pensar, pesquisar, revisar, contar e contestar, sem interferir com censuras, nem mesmo catequéticas.

10º.           O que Deus representa para sua vida? Diga a plenos pulmões! Vamos! Estamos aqui, no confessionário, prontos para ouvir você. Saiba porém que a antropologia teológica constitui-se (1) um problema gnosiológico. Importa à filosofia afirmar a veracidade e verificabilidade do saber humano. Ela se incomoda com a validade do saber, ou seja, se o que se diz ser verdadeiro é de fato verdadeiro ou supostamente verdadeiro. Quer saber como se dá o saber e se este saber pode subir às altas categorias da incontestabilidade lógica. (2) um problema metafísico. Importa à filosofia filtrar o saber de tudo o que se possa mostrar mítico e insustentável ante o crivo da lógica. Ela questiona tudo o que não se possa experienciar e reproduzir em laboratório. Ainda que não exclua em absoluto o meta-físico, o categoriza sempre como algo meta-humano e até, des-umano. (3) um problema moral. Importa à filosofia delimitar as fronteiras do bem e do mal. Ela não estabelece estas fronteiras, mas questiona suas extensões e alcances, implicando sobre sua validade e praticidade.

11º.           Quanto ao concílio ecumênico entre ateísmo, agnosticismo, catolicismo e protestantismo à sombra do bar da esquina, regado à cerveja e guaraná, não se preocupe. Isto é naturalmente humano – demasiadamente humano. Continuarei protestando, o Vanderley continuará rezando, o Wlliam não sabendo se pode conhecer Deus e você... bem, você “essa metamorfose ambulante, sem uma opinião formada sobre quase nada, a não ser que se acha “agora” em ateísmo”.

Não precisamos mais discutir se Deus existe e o inferno também. Eu sei que estou certo e vocês errados. rs





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