quarta-feira, 18 de maio de 2011

Intervenção no fórum de sociologia

Cara colega Miriam

Achei seu texto muito bonito. Mesmo, sem nenhum sarcasmo, como já apontam alguns colegas sobre meus textos. De verdade mesmo, eu acho a fé uma das coisas mais bonitas que existem. É como se você estivesse comendo quiabo de um jeito tão gostoso, que ele ficasse até mais atraente no seu prato. Olha, não quero comparar deus a quiabo, só quero dizer que a forma como você diz que ele seja e como ele interfere na sua vida (no ar que respira, no outro, nos desejos etc.) faz com que ele pareça uma figura mais humana - e eu, dada ao humanismo, ou melhor, ao existencialismo, me interesso mais por esta faceta do símbolo divino, que faz parte da vida de todos nós - os que gostam e os que não gostam de quiabo, os que amam e os que não amam deus.

Peço desculpas se em algum momento pareço ter zombado da sua fé ou das dos demais colegas. Respeito nosso direito coletivo de crer ou deixar de crer em qualquer coisa. É que gato escaldado tem medo de água fria, sabe? Já na primeira série fui suspensa da escola por dois dias por me recusar a rezar o pai nosso antes do lanchinho. Veja você que meu embate é de longa data. São tantos anos na defesa pelo meu direito de não me submeter ao delírio coletivo de deus, que acabo aparecendo armada em qualquer debate - mesmo quando o debate não sugere o questionamento religioso, como é o caso das mulheres no mercado de trabalho.

Por outro lado, entendo que deus seja um tema totalmente propício para a discussão sociológica, talvez até mais do que teológica. Como eu entendo a figura de deus como uma criação social, entendo que ele seja, ou deveria ser, tema recorrente na sociologia. Veja que neste caso, é importante a visão que o mundo tem das mulheres: isso por uma confluência de fatores, mas que passa, inevitavelmente, pelo cristianismo.

Mas isso não é assunto que nos separa e sim assunto que nos une. Sempre digo que deus não existe, mas a fé nele sim. Conheço pessoas que foram curadas e atribuem essa cura a deus. Eu atribuo à fé e aos seus diversos mecanismos psicológicos que fizeram com que seus corpos realmente melhorassem. A fé é linda, pois anestesia o homem e com isso, suas dores dóem menos. Nunca quero que você ou qualquer outra pessoa deixe de ter esse anestésico dentro do coração. A única coisa que quero - e aí eu exijo - é o meu direito de não ser anestesiada e sentir na carne, ainda que doa e sangre, toda a minha interpretação de mundo. Sem subterfúgios, senão os filosóficos.

Por muito tempo tive minha fé. Não era a cristã, pois eu era de um grupo que acreditava que a deusa era mulher e se encontrava na poeira, no sol, nas nuvens etc. Continuo acreditando de certa forma nisso, mas hoje, para mim, o que se encontra na poeira, no sol e nas nuvens, é uma coisa tão maluca quanto a idéia de deus: a física. Foi uma forma de substituição, com uma diferença: eu sempre desafio o meu novo deus, assim como fazem os especialistas no assunto.

Para concluir: deus existe - se você acreditar que sim. Deus não existe - se eu acreditar que não. E tudo bem em ambas as teorias.

Mas voltemos ao campo da sociologia: por que, afinal, as mulheres ainda ganham menos do que os homens?

Abraços,

Natachy

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