quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ao Willian

Caro amigo

Acredito que entre os sofistas e Sócrates haja diferenças muito tênues, quase imperceptíveis dependendo da visão conceitual que você forma sobre as questões - e por isso querer forjar um combate deliberado entre eles, postulando vencedores ou perdedores, me parece muito superficial (mesmo porque, é sabido que Sócrates chegou a enviar, inclusive, alguns discípulos para terem aulas com os sofistas).

A controvérsia se dá em razão das várias caricaturas que nos foram ensinadas de Sócrates até hoje. Veja que se os sofistas foram descritos historicamente por seus inimigos, já com Sócrates acontece o oposto: a grande parte dos registros que temos é de filósofos apaixonados por sua filosofia, fazendo com que nos percamos em meio ao que seria o homem Sócrates e o que o personagem Sócrates viria a se tornar.

Sabemos que o cristianismo utilizou a figura de Sócrates para erguer-se diante dos protestantes. Até a Idade Média, Sócrates era visto apenas como um grande filósofo e não tinha a conotação quase religiosa que hoje possui.

Atualmente estamos no seguinte dilema: se defendemos os sofistas, somos automaticamente condenados à rivalidade com Sócrates. No entanto, o verdadeiro opositor das técnicas sofísticas foi Platão, discípulo apaixonado que tanto descreveu Sócrates, como a si mesmo, fazendo com que toda a sua biografia fosse permeada pela presença do hoje chamado "pai da filosofia". Quem seria Sócrates de fato? O conceitual dos primeiros diálogos de Platão ou o personagem a qual Platão usa quase como que alegoria nos últimos anos de sua vida?

Por fim, vejo uma diferença grande em Sócrates: ele não se dispunha ao papel de professor. Ainda que os apaixonados socráticos discordem, Sócrates não proferia verdades ou dogmas aos atenienses. E por não acreditar que a verdade pudesse ser ensinada (ou argumentada), nem escreveu sobre sua filosofia. O que ele fazia era questionar profundamente a crenças das pessoas nas verdades que elas acreditavam, fazendo com que através do auto-conhecimento as pessoas pudessem chegar ao seus ideais de virtude.

Claro que a filosofia tinha forte ligação com a política e por isso, os ideais que se esperavam estavam muito atrelados à vida política, mas não vejo Sócrates como político ativo na polis, nem proferindo dogmas de quaisquer espécies. Penso que ele acreditava que a verdade só existiria pela ética individual. O que pode parecer um paradoxo, pois se pensarmos assim, Sócrates seria um sofista - ainda que aprimorado. Pense: se a verdade deveria ser descoberta pelo auto-conhecimento e sendo a ética individual a cada um, não existe mesmo a verdade. Ela é consenso. Voltamos aos sofistas!

Bom, desculpe os possíveis erros. Estou escrevendo aqui escondida do meu chefe, que vive gritando pelos corredores que não entende pq mantém uma filósofa trabalhando no departamento comercial da empresa....rs

Lá de casa eu tento concluir o raciocínio e reparar as possíveis arestas que deixei.

Abraços,

Natachy

Nenhum comentário:

Postar um comentário