quarta-feira, 20 de abril de 2011

Implicações da Paidéia para a educação atual

Com o desenvolvimento da escrita na Grécia, a produção de textos para-religiosos incentivou a busca epistêmica da aletéia. Perguntava-se na ágora: "Que verdade há nisso que está sendo falado?" E a dúvida pós-homérica e pré-socrática se tornou "vício" na sociedade helênica. Uma vez que as tribos cederam lugar para as cidades-estados e os patriarcas cederam lugar aos pedagogos (pessoas que acompanhavam os meninos até locais de ensino), os oráculos cederam vez para as leis. 

Seria possível a sobrevivência dos deuses neste mundo de homens governados por leis humanas? Até quando o mito explicaria a existência? Entre a gente comum pouco importavam os debates da ekklesia, mas para comerciantes e políticos era fundamental "agir sobre o destino", modificar o rumo da existência. Duas cidades que levaram o ideal grego ao zênite foram Atenas e Esparta. 

Ambas se rivalizavam em tudo, inclusive na educação de seu povo. Enquanto os atenienses aplicavam-se ao exercício da razão para o governo da polis, os espartanos direcionavam os esforços educacionais para a segurança de Esparta e conquista de vitória nas guerras. Os espartanos tornaram-se rigidamente disciplinados e exímios conhecedores da ciência bélica, ao passo que os atenienses deram força ao conhecimento filosófico tornando-se o berço do saber ocidental. 

Temos nesta dialética espartana-ateniense um bom modelo para a educação na pós-modernidade. Por um lado é preciso enxugar do currículo escolar as matérias ociosas para a vida prática dos alunos, assim como faziam os espartanos. Eles ensinavam para o contexto histórico de suas guerras e conquistas. Em campo de batalha os guerreiros necessitavam bem mais de músculos e agilidade do que de teorias abstratas sobre a origem dos deuses e dos males, precisavam interpretar ordens e segui-las bem mais que discutirem sobre a ética e validade das mesmas;
Por outro lado é preciso enriquecer o cabedal de conhecimentos dos alunos e produzir um avanço científico que retire os homens do campo de batalhas para as mesas de negociação. Nisto os atenienses deram exemplo aos ocidentais. Formaram homens livres que garantissem a abrangência desta liberdade a outros homens. 

Se em nosso tempo seguíssemos esta dialética nos currículos escolares teríamos bem maiores colheitas e maiores satisfações com os sistemas de ensino. Eu mesmo estaria bem melhor preparado para enfrentar a pós-modernidade que estou agora. Penso nos anos a fio que perdi dentro das escolas, decorando fórmulas e questinários desnecessários para a vida prática. 


Por Rogério de Sousa

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