quarta-feira, 20 de abril de 2011

Resposta à Natachy - O Saber Filosófico

A tecitura de sua postagem se mostrou perfeita. Quiçá, e por demais, pé no chão, realista e crítica. Pari passu fez ponte com o antigo e o contemporâneo, contrastando e comparando, aproximando e distanciando, possibilitando e atualizando. 

O que de minha parte fica é um "e agora?" Já que o cenário da virtuosidade atual é tão assim, desestimulador, o que faremos? Seremos espectadores da roda viva? Aplaudiremos a panacéia pedagógica? Amargaremos a frustração da inglória? Bateremos em retirada? E agora?
Bem antes de cursar Filosofia, eu a conceituava como a ciência que pergunta: "As coisas são como são ou podem ser de outra forma? Se podem, de que forma podem ser?"

Por isso, proponho a reação! Proponho "tentar outra vez - com os dois pés na ponte". 
Proponho a tomada do Poder, pela Força do Saber Filosófico.
Ah! O Saber Filosófico! Nas palavras de Mário Ferreira dos Santos...

"O ser humano, em face da variedade heterogênea dos fatos do acontecer cósmico, para dar-lhe uma ordem, viu-se forçado a construir esquemas abstratos, por meio dos quais classifica esse mesmo acontecer. E não satisfeito com isso, procurou descobrir-lhes o nexo.

E o que já examinamos nos favorece para que possamos ampliar o enunciado do que seja a Filosofia.
E para descobrir esse nexo, tendo como instrumento o pensar como ato de captação de pensamentos, e os conceitos, como esquemas abstratos, não podia o homem obter êxito em sua atividade se não procedesse pelo método da comparação. E não poderemos compreender a comparação sem que previamente estudemos as relações.

Todos usam o termo relação, e nunca se usou tanto como hoje, onde já se forjaram palavras como relativismo, relacionismo, e outras.

Etimològicamente, vem ela do verbo fero, cujo participio passado dá latum (fero, tulo, latum, ferre, como o tem que decorar os que estudam latim). A partícula re em latim tem o sentido de movimento, de volta, de retrocesso, de repetição também. Re-latus, indicaria, o relato, fazer uma relação, narrar alguma coisa. Relatus como adjetivo, indica o tornado a trazer, o referido, o proposto, por exemplo.

Relatio é a relação, o que se relata, a narrativa. Relação é o pôr-se ou o estar de uma coisa levada a outra, ou que está em face de outra.

Dessa forma, todas as coisas estão em relação, porque todas estão em face de outras. Mas podemos pela mente, relacionar as coisas com outras, as presentes com a imagem das ausentes, e quando relacionamos conceitos com conceitos, quando refletimos, (de re-flectum vem re-flexio, ação de voltar, torcer, reflexão) voltamos os pensamentos e os pomos em relação uns com os outros. Temos,
então, o que psicologicamente se chama reflexão.

Ora, as relações nos mostram, no entanto, aspectos muito interessantes. É que há fatos que se relacionam acidentalmente com outros, como a relação que pode haver entre mim e a paisagem, que se desdobra além da minha janela, mas revela que nessa relação eu nada influi na paisagem, embora ela em muito, durante sobretudo as manhãs claras, influa sobre mim. Vemos, então, que as coisas relacionadas umas às outras podem exercer influências que provoquem modificações.


Há relações meramente fortuitas, sem influência maior entre as partes relacionadas, e outras em que essas influências podem levar a profundas modificações.

Posto uma coisa em face de outra, ou um conceito em face de outro, ou um juízo em face de outro, verificamos facilmente ou não, que entre eles há aspectos que se repetem, que ambos têm, em comum, como o azul deste livro com o azul daquele livro, entre mim e o leitor também,
mas logo captamos aspectos que são diferentes, que estão num e não no outro, como este livro, sendo igual a este, é também diferente, porque, se ambos são azuis, este é mais grosso que o outro". 

Fonte: Convite à Filosofia e à História da Filosofia
Autor: Mário Ferreira dos Santos
Editora: Logos


Por Rogério de Sousa

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