quinta-feira, 21 de abril de 2011

Resposta ao Rogério

Obrigada pelas considerações. No entanto, não considero que a desmitificação dos deuses, ou mais propriamente falando na atualidade, do deus cristão, seja somente uma herança pós moderna.

A importância de estudar história e no nosso caso, a história da filosofia, dá-se justamente pela necessidade de compormos histórica e culturalmente os processos que fizeram com que nossa percepção fosse evoluindo e chegando ao que você chama de "pensamento pós-moderno".

Evidentemente que com o início da filosofia (embora o termo "início da filosofia" me incomode), os deuses não caíram por terra. Assim como deus não foi sepultado com a afirmação da morte de deus, por Nietzsche.

No entanto, não há como refutar que o período que estamos estudando foi crucial para o desenvolvimento desta racionalização.

Quando Tales de Mileto argumenta ser a água a phýsis, ele não afirma não existirem os deuses. O que ele faz, contudo, é atribuir a um elemento natural, a origem do mundo. Ainda que acreditasse que a água fosse um presente dos deuses ou, de alguma forma, a sua personificação, ele não desmitifica o mito, mas o racionaliza.

E para mim, esta é uma herança importante para a sociedade atual. Independentemente de acreditarmos ou não na mitologia judaico-cristã ou em qualquer outra forma fantasiosa de contar uma boa história,hoje somos capazes de analisá-la, perscrutá-la e como disse anteriormente, adaptá-la culturalmente.

Vou citar um outro exemplo: a Bíblia (sem mencionar a adaptação de outras crenças e civilizações que nela são realizadas): Antigamente, acreditávamos serem reais as histórias nela contadas. Ou seja, que o mundo teria iniciado com Adão e Eva, que expulsos do paraíso tornaram toda a humanidade pecadora. O que fizemos hoje em dia? Não deixamos de acreditar em deus (pelo menos não, a maioria das pessoas).

Contudo, já racionalizamos este dogma, justificando-o como uma parábola. Através dos estudos e da evolução do pensamento, já somos capazes de entender e criticar a Teoria da
Evolução, por exemplo. Isso não tornou as pessoas menos crentes, mas as tornou mais racionais.

Assim, acredito que a desmitificação venha do interesse que é próprio da filosofia: o questionamento das verdades eternas. Vem da necessidade que temos (e que podemos apontar como parte da herança grega e não apenas moderna), de não aceitarmos as respostas prontas, tampouco os dogmas impostos.

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